domingo, 17 de novembro de 2019

A árvore de Natal

           Na nossa casa sempre montamos a árvore de Natal após o aniversário do Mário, no dia 15/11. Algumas vezes até no próprio dia 15, com a ajuda dos sobrinhos presentes.
           Era uma festa... eles ainda pequenos enfeitando  do jeito deles, sem alcançar os lugares mais altos, colocando  a ponteira de estrela com a ajuda de uma cadeira. Tinha a botinha azul que era do João Pedro e a botinha vermelha que era da Amanda. Os adesivos de vidro com temas natalinos, o Papai Noel que ficava pendurado no teto, o pequeno presépio, a árvore de LED que dava pra ver brilhando da rua, o  Papai Noel de costas como se estivesse chegando sorrateiramente e o calendário do advento. Ah, o calendário do advento que  ganharam da Regina. Estava  até desbotadinho nos últimos tempos. Mas as crianças gostavam tanto dele que faziam questão de pendurar e marcar cada  dia de dezembro. Até chegar no dia 25.
             Cartinhas pro Papai Noel escritas na escola ou entregue para um deles, antes lidas por nós, para descobrir o que eles haviam pedido. Ainda bem que eram desejos simples. Porém, teve um ano que quase enlouqueci atrás do Steve McQueen ( o carro vermelho do filme Cars) . Esgotado em tudo quanto é loja de brinquedos da cidade... E era o pedido para o Papai Noel. Como frustrá-lo? Muito triste se fosse assim...Até que depois de muito buscar, o vendedor de uma loja de brinquedos conseguiu o último. Ufa! Pedido  ao Papai Noel garantido..
              Amanda dizia que o mês que ela mais gostava era dezembro. Porque era o mês da apresentação do Ballet, do aniversário e do Natal. Depois que cresceu um pouco, queria continuar acreditando no Papai Noel. Dizia que o Papai Noel tomava uma porção mágica para ficar pequenino e passar debaixo das portas ( creio que baseada numa estória da turma da Mônica).
               Já teve até Papai Noel chegando em casa ( quase que a minha sobrinha reconhece o avô)...
               Papai Noel também já apertou a campainha do apartamento, deixou a bicicletinha e saiu correndo. Que Papai Noel apressado...Provavelmente porque estava atrasado e tinha muitos presentes para entregar.
                Lembranças deliciosas de um tempo que não volta mais. Ainda bem que foi bem vivido. Cheio de magia e fantasia.
                Porém, nem no dia 15 e nem hoje teve árvore montada. Amanhã quem sabe.

            

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Carta de finados

Filho amado,

         Dia de finados. Por que escrever uma carta? Você não findou. Não para mim.
         Dia dos mortos? Se o esquecimento é a morte derradeira, você não morreu. Não para mim e enquanto eu viver.
          Talvez para eu organizar as ideias . Ou para amenizar as saudades que são infinitas e que apertam mais o coração nessas datas. Pois se “saudade é o amor que fica”, então todo dia é dia de saudade e de amor.
          Como diria Santo Agostinho “você partiu para o outro lado do caminho”, mas está presente em cada  lembrança, nas nuvens ( será que você está brincando em cima delas), no sol nascente e poente, na chuva que cai ( como gostava do banhos de chuva no calor), nos lugares que costumávamos ir, nas fotografias, nas tantas músicas que ouvíamos e cantávamos juntos.
          Outro dia fui num concerto de violino. Lugar improvável de ouvir Aquarela. Não pude evitar as lágrimas de caírem. Aquarela que cantávamos juntos desde que eram bem pequenos e que você me pedia diversas vezes para tocar no carro. Aquarela que cantamos juntos pela última vez no hospital. Aquarela que diz que o futuro é uma astronave que tentamos pilotar e que depois convida a rir ou chorar.
          Que ironia a letra de Aquarela tantas vezes por nós cantada. Que ironia você querer ser médico de dor de cabeça. É às vezes parece irônico, você tão novo, descansando cercado de pessoas que partiram com idade bem mais avançadas ( talvez avôs, bisavôs).
          Como postou o padre no dia do seu velório “enterrar uma criança de doze anos atenta contra toda lógica. É a penumbra do Mistério de Deus”.
           A mim, ainda que não compreenda este Mistério, cabe apenas aceitar. Levando esta saudade e este amor que vai além do que aqui vivemos. Seguindo em frente com a certeza que “o outro lado do caminho” está logo ali  e um dia nos reencontraremos.
                  Com muitas saudades,

                              Sua mãe.


( escrito em 2 de novembro de 2018, dia de finados)