quarta-feira, 24 de março de 2021

Uma borboleta azul

              


                   Meu aniversário chegando, mas queria escrever sobre o seu. O primeiro aniversário sem você por aqui caiu num domingo, como este ano. Todos tristes, com a saudade batendo mais forte ainda. Não queríamos ir almoçar na Bathan que era o lugar que você mais amava ir. Também sem vontade de fazer algo em casa, fomos numa praça da alimentação do Shopping, lugar bem impessoal onde não costumávamos ir de domingo no almoço.

                    Quietos, almoçando quase por obrigação. De repente, pousa uma borboleta azul  (a maior que já vi) no seu pai, do nada.  Fiquei olhando. E repentinamente, seu pai a espanta.

                     Conversando silenciosamente: “ não pode ser. Se for o que estou pensando, volte e pouse em mim”.  E ela voltou e pousou na minha perna. Fiquei imóvel e nós três só observando, não sei por quanto tempo. Momento esse em que o tempo nos ilude.


                   “A borboleta é vista como símbolo da transformação, da felicidade, da beleza, da inconstância, da efemeridade da natureza, expressa recomeço, proteção, boas energias. Significa o puro símbolo da mudança e renovação.”

 

                   O que pensar ? Não sei .  Nunca havia visto uma borboleta no shopping, ainda mais daquele tamanho. Mas de alguma forma, aquela borboleta acalmou a minha alma. 


( Escrito num domingo, após uma conversa sobre borboletas com duas amigas queridas)

terça-feira, 16 de março de 2021

Flores pra você

              



              Hoje dia 17, desta vez aniversário da sua obatham.  Quando bebê, ela ia todo dia ver você. A Amanda já estava na pré-escola, então era você que ela dengava. 

              Depois que cresceu um pouco,  a casa dela era o lugar onde mais gostava de ir almoçar. De sábado o bife à milanesa (bem fininho ) e a batata frita eram imbatíveis. De domingo,você gostava do macarrão. Muitos amigos de vocês almoçaram por lá. Tinha o seu refrigerante, o chá da Amanda e o chá da Vivian. E o chocolate de preferência de cada um . Você já chegava perguntando se a Vívian  ( prima) tinha chegado. A casa foi palco de muitas brincadeiras e de brigas de vocês .

          A avó coruja dizia que os três netos dela eram lindos ( o que eu era obrigada  a concordar).

          No seu último ano, aguardando entre aulas,  às vezes dentista, você ficou bastante tempo novamente com ela durante a semana.  Ela ficava encantada quando dizia: “ não precisa descer comigo, pode ficar descansando”. Mas claro que ela descia, usufruindo mais um tempinho com você.

          Um dia arrumando a mesa para o almoço a obatham constatou: antes eram 9 pratos, depois 8, agora 7. Depois que a Amanda for para Uberaba serão apenas 6 ( mal sabia que ela iria e voltaria tão rapidamente por causa da pandemia).

          Esta semana, ela sonhou com você . Estavam em um lugar cheio de flores e você falando o nome de todas elas: violetas, rosas, gerânios , margaridas, orquídeas.

          Acho que era você trazendo flores de presente para o  aniversário da Obatham. Talvez comemorando do seu jeito.

domingo, 7 de março de 2021

Pandemia


           Pouco tenho escrito. Acho que ando triste. Panorama sombrio . Recordes de mortes por Covid no país, sistema de saúde colapsando, muitos conhecidos que faleceram, amigos perdendo os familiares. Ontem, morreu um jovem de  Covid, de apenas 20 anos. E a vacinação num ritmo mais lento do que esperado. Noticiário ? Está difícil de escutar.

          Um ano de pandemia por aqui. Um ano de quarentena. Jamais imaginaríamos viver algo assim e por tanto tempo.

          No entanto, estamos bem. Temos casa, trabalho, comida na geladeira e os familiares com saúde . Meus pais idosos tomaram a primeira dose da vacina, aguardando a segunda dose para nos tranquilizar.

         Difícil é para quem está lutando pela vida ou por um leito no hospital. Difícil para quem tem os familiares doentes, sem poder vê-los, com notícias escassas. E sequer poder se despedir num caso de partida.

         Por experiência digo, difícil é ter medo de ouvir a notícia que mais  se teme. Como mãe , sempre acreditei que tudo acabaria bem. Sempre acreditei que um milagre aconteceria , que com ele seria diferente. Talvez, porque o simples pensamento de viver por aqui sem ele, doía demais. Penso que é inimaginável para qualquer pai ou mãe .

           Não sei se existe vivência mais difícil que entregar um filho, não creio. Ao menos pude me despedir. Numa sequência dolorosa de dias, fui me despedindo. Veio a notícia da suspeita da morte cerebral, posteriormente confirmada. Depois, a espera do seu coração parar de bater,  na minha presença.

          Ainda parece um pesadelo. Às vezes,  ainda  imagino que vou acordar, mesmo depois de mais de cinco anos.

         Quantas mães perderam seus filhos nessa pandemia. Quantos filhos perderam seus pais, avós . Irmãos que perderam irmãos . Sem despedida. Quantos enlutados nesse mundo afora.

         Que venha logo a vacina para todos Que voltemos a ter esperança . Que possamos continuar acreditando num mundo melhor.