domingo, 25 de outubro de 2020

Da minha própria história

             Acabei de ler o livro Histórias lindas de morrer. No final do livro, a autora conta a sua própria experiência como filha de paciente. Desabafa sobre uma médica prepotente, sobre o inconformismo e a raiva do atendimento destinado ao pai. 

              Lembrei da minha própria história. Dois médicos, mesma situação. 

              Um deles alertou sobre a gravidade da situação do meu filho, sem esconder o que estava acontecendo, mas delicadamente.

              O outro, conversou comigo num banco do corredor e disse: “ o João Pedro que você conheceu não existe mais. Você deve pensar o que é melhor para ele”.  Eu , mãe , em choque, chorando e largada sozinha no banco do corredor. Ele disse o que disse, levantou e saiu . Simplesmente assim. Tentativa de consolo ( ainda que pudesse não haver), nenhuma. Empatia ? Zero. Pode ser um ótimo técnico,  ser humano ? Não sei. Não vi essa face.

            Não sei se era pai. Mas devia saber, que quando se trata de filhos estamos lidando com a “parte mais sensível “ dos pais. Para quem não passa por uma experiência de morte de um filho, tudo isso é inimaginável. 

            Uma grande e querida amiga um dia me disse: “ imagino o que você está passando “. Eu prontamente respondi, você não imagina. Só quem passa, sabe. E ela empaticamente falou: “ você tem razão, eu não imagino”. Disse outro dia, que esse diálogo foi marcante. Que a fez refletir que realmente não tinha como saber.

           Cada história é única . Cada relação é única. Cada dor é única. Cada amor é único.

            Como diz no livro: “ ela é um lugar que será sempre dela”- Zack Magiezi. Sim , você João Pedro, tem um lugar que sempre será seu. Você é um lugar seu. Para sempre.



* Histórias lindas de morrer - livro da médica geriatra e profissional de cuidados paliativos, Ana Cláudia Quintana Arantes.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

O parquinho

         “Hoje eu acordei com saudades de você” ... não foi na praça que começou o nosso amor. Com certeza foi bem antes de você vir a este mundo. Dizem que escolhemos os nossos pais . Será que tive a honra de ser escolhida por você ? Que ainda por breve e marcante tempo  ter sido escolhida para compartilhar das suas vivências?

           “ Senti que os passarinhos todos me reconheceram e eles entenderam toda minha solidão “. Muitos lugares me trazem recordações. Da primeira infância ou mais recentes. Você era tão apegado a mim quando pequeno. Como se soubesse que ficaria por pouco tempo ( sim, são divagações minhas). Depois cresceu. O pai era o seu herói. No entanto , na sua despedida, que eu não sabia ser a sua despedida, queria que eu ficasse sempre ao seu lado. Como se voltasse a ser aquele menino pequeno .            

             “A mesma praça o mesmo banco
              As mesmas flores o mesmo jardim
              Tudo é igual mas estou triste
              Por que não tenho você perto de mim“
              Não seria a mesma praça, mas o mesmo parquinho. Aquele que serviu de cenário para as suas brincadeiras  e da sua irmã pequenos. Caminhando, passei em frente. Impossível não voltar ao tempo, embora modificações  tenham sido feitas. Mas mesmo que não houvessem, não olharia da mesma maneira. Até a maneira de  ver o tempo e o espaço mudou. Tudo se modificou. Depois da sua partida , impossível ser quem eu era. 
             

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Saudade, saudade, saudade


 Quantas saudades meu querido! Se “saudade é o amor que fica” , a saudade e o amor são imensos. Especialmente num dia 17 .

domingo, 11 de outubro de 2020

Feliz dia das crianças aos meus filhos

          Meu filho ficou na infância. O dia das crianças sempre será o seu dia. Todas as lembranças são da infância e não da adolescência que começava a despontar.

           Por isso essas datas nos fragilizam mais. Ainda que para os pais os filhos são sempre crianças,  o fato do João Pedro ter partido tão cedo acentua esse fato.

            Aqui o tempo passou, para ele não. Seus amigos estão  escolhendo o curso para prestarem vestibular. E agora começa a sequência dos aniversários de 18 anos. Parece inacreditável, aquelas crianças que conheci desde a pré-escola, com 18 anos. Daqui a pouco motoristas. E mais um pouco, “dirigindo “ as próprias vidas.

             Você ficou em 2015. As lembranças dos momentos que amávamos são desta data ou anteriores:  as cabaninhas na mesa da sala, as apresentações de teatro com a direção da Amanda, escorregar de papelão pelas encostas, juntar os amigos para sair pedindo doces ( Haloween), voltar da escola  ouvindo as músicas aprendidas ( das cirandas ao hino nacional),  irmos às incontáveis apresentações infantis do  *Filo (com pão de queijo a ser degustado na fila), e tantos outros.

             Hoje passei por um caminho que costumava fazer diariamente para levá-los à escola. O caminho mudou totalmente . Hoje tem uma rotatória  e outras ruas que foram abertas. Deu muita saudade. O caminho que era diário abruptamente sumiu de nossas vidas. Assim como o caminho do futebol e da casa dos seus amigos... Distraidamente perdi o rumo e lágrimas começaram a escorrer.         

             Não consegui encomendar, mas descobri que o pastel que levávamos  pós futebol da escola, agora está perto de casa. A padaria antiga fechou e reabriu aqui perto. Vocês adoravam e virava “ quase” uma festa. Nós mães,  até arriscamos a dar uns chutes. E eu que nunca joguei futebol estava lá no meio do jogo. 

               Meu filho partiu ainda criança.  Como diz sabiamente Adélia Prado, “ o que a memória ama permanece eterno”. Por isso para os pais, os filhos são sempre crianças .  As lembranças dos barulhos da  infância, das risadas, das brigas , das brincadeiras ficaram eternizadas na minha memória. Por isso, tanto João Pedro como Amanda, serão sempre crianças no meu coração. Para sempre.


*FILO - Festival Internacional de Teatro de Londrina 


Escrito na Semana do dia das crianças de 2020