sexta-feira, 23 de julho de 2021

Reminiscências

         


            Hoje acordei com muitas recordações. Recebi um vídeo do “ Hino dos elefantes de Olinda”:

“ Olinda, quero cantar

A ti, esta canção

Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar

Faz vibrar meu coração

De amor a sonhar, minha olinda sem igual

Salve o meu carnaval”.


            Passei o Carnaval em Olinda, pela primeira vez, com 17 anos, já  na faculdade. Essas reminiscências trazem um período com poucas preocupações. A vida era mais leve, um futuro inteiro e muitos sonhos. Bate saudade de quem eu era.

             Acontecimentos modificam tanto a nossa vida que não voltamos a ser o que éramos.

             E ainda:

             “Ninguém muda ninguém. As pessoas mudam pela auto percepção, ampliação da consciência, e outras tantas vezes, pela dor”. 

              Penso que a dor muda a nossa auto percepção, a ampliação da consciência e compreensão de pessoas/fatos.

             Talvez tenhamos nos tornado pessoas melhores. Mas a que preço?

             Nada volta a ser como era. Nem os fatos, nem o nosso âmago.

             O que nos resta ? Olhar para o alto e seguir em frente. Por nós, por quem caminha conosco e por quem está “ do outro lado do caminho”. Afinal,  “a vida continua, linda e bela como sempre foi”.



Ps : a primeira citação não identifiquei a autoria. A segunda é de Santo Agostinho 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Acalanto



Acalanto

( Dorival Caymmi)


https://youtu.be/ZKS7h05sU4c


É tão tarde
A manhã já vem,
Todos dormem
A noite também,
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném;
Lá no céu
Deixam de cantar,
Os anjinhos
Foram se deitar,
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar:
"Boi, boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta “


Sempre cantava essa música para a Amanda e o João Pedro dormirem. Descanse, meu querido. Onde estiver.



https://youtu.be/ZKS7h05sU4c

domingo, 11 de julho de 2021

Sobre despedidas


           Nenhum morto morre sozinho. Com ele, morrem no mínimo dez ou mais pessoas de modo direto e, indiretamente, uma multidão”. Do sociólogo Roberto Damatta, sobre a tragédia brasileira. 

           Ou seja, quantos milhões de enlutados temos no Brasil no momento?

            Semana passada a Carol perdeu o avô. Meus sobrinhos do coração perderam um dos 4 avôs por eles adotados. A Marisa perdeu a irmã. Só na semana passada.

            Durante esse tempo a Silvia, a Cláudia e o Raildo perderam a mãe. A Ana Claudia, a Bibi, a Lucy, a Simone, a Elisa e o Marcelo perderam o pai. A Edna perdeu o irmão e a sobrinha. A Carla perdeu o companheiro de uma vida. O Carlos perdeu os irmãos. Isso pensando rapidamente. Todo dia tem postagens em redes sociais pedindo orações. Ou falando de luto.

           Despedidas complicadas, nessa época de pandemia. Seja por Covid ou não. Sem poder abraçar os que ficaram. 

           No velório do João Pedro, lembro de alguém ter perguntado um pouco antes do sepultamento,  se queria que pedisse para as pessoas saírem para poder nos despedir. Respondi que não era necessário, pois já havia me despedido dele no hospital. Sim, tive tempo para me despedir dele. De segurar suas mãozinhas. De entregar meu filho a Deus para que fosse feito o melhor para ele ( creio que foi o ato mais difícil em toda minha vida) e pudesse partir em paz. Ainda assim, tive esse tempo.

            Os familiares, amigos deles, amigos nossos puderam se despedir. Muitas pessoas vieram se despedir e prestar a solidariedade. Reconhecer a nossa dor através do olhar ou do abraço e experienciar/ vivenciar parte dela.

           Por ser tão surreal, para nós como pais, a morte de um filho ainda mais com tão pouca idade, esse processo de despedida ajuda na percepção da concretude da morte.

         Na missa de sétimo dia, várias pessoas ficaram para fora da Igreja. E caiu uma chuva no dia. Ainda assim, parei de receber os cumprimentos mais de uma hora depois.

        Não deixaram de ser várias despedidas.

        Despedida das suas roupas e pertences ao arrumar o seu armário. Despedida em cada vez que visito você no cemitério. Despedida em cada aniversário sem você por aqui. Despedida em cada data comemorativa em que sua ausência se torna mais presente: Natal, ano novo, Páscoa, dia das  mães, dia dos pais, nossos aniversários. Despedida em muitas vezes que rezo.

           Nesta semana, li um texto de Teresa Gouvea que tão bem expressa  esse sentimento:  “ não nos despedimos uma única vez, porque a saudade não tem lugar fixo, ela anda pelos lugares que andamos e, a cada lugar inaugurado sem aquele amor, ocorre uma nova despedida”. 

           Além da vida ser a “ arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida” , penso que também é o da despedida, embora haja tantas saudades pela vida.




Ps: ontem a Mariah perdeu o avô e na quinta perdi minha tia