sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O pós Natal

          






          Natal, festa de família reunida. Sempre vai faltar você . Sei que está com O aniversariante, mas você faz muita falta por aqui.

           Já são sete natais sem você . Não é igual .  Muitas vezes tenho que juntar forças, para montar árvore, decorar a casa , pensar no cardápio, providenciar presentes. Mas não acho que seria justo para a sua irmã e para os seus avós . 

            Reunir a família é ótimo, são bons momentos. Mas depois que tudo passa, bate uma sensação estranha. Talvez o vazio de saber que nunca mais teremos a sua presença física por aqui . Que sempre faltará você..

Aí o coração dói …

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Sinopse

                   



                  Foram doze anos e meio que meu filho esteve por aqui . Ele brincou muito, jogou bola, passeou, sorriu, chorou, emocionou e fez emocionar. Creio, foi feliz em sua curta passagem. Destas lembranças vívidas  e alegres , da experiência difícil no hospital, da dor da partida, do processo do luto , da saudade diária e da gratidão por tê-lo conosco, surgiram os textos que aqui compartilho . 

               Comecei escrevendo num processo terapêutico, para ajudar a organizar minhas ideias e sentimentos. Não parei mais.


               E se, de alguma forma estes textos auxiliarem no processo do luto de alguém , especialmente das mães que perderam seus filhos, já vai ter valido a pena.

domingo, 11 de dezembro de 2022

Mais uma vez Copa do mundo …

         



            Mais uma vez Copa do mundo. Quem era mais louco por futebol em casa, era meu filho. Desde pequeno com sua camiseta da seleção, torcendo. 

            Sim, eu segui minha vida. Mas certos fatos, lugares, datas trazem “gatilhos” sim. O luto, ainda que resolvido, não é linear . E o que eu vivi, merece ser honrado, lembrado. A mim pertence.

            Por isso viagens de férias , mar , aniversário, natal, futebol , traz lembranças.

Engraçado, da Copa de 2018 mal lembro. Sei que assisti os jogos. Só .

            No entanto, a Copa de 2014 vem com memórias. Tentamos comprar ingressos para o jogo do Brasil, em vão. Vimos alguns jogos aqui em casa: com amigos, com amigos do João Pedro. Num dos lances, ele segurando o riso, porque a mãe do amigo vibrou com o replay do gol. Olhava pra ele e estava muito engraçado. Cervejas e comidinhas típicas do time adversário. Divertido. Até aquele fatídico 7 a 1, inacreditável. Cada vez que ia buscar algo era um gol da Alemanha. 

           Encontro fotos de 2006 ( você tinha apenas 3 aninhos) e de 2010 quando já conseguia compreender um pouco . E colecionar o álbum de figurinhas da Copa. E ter como programa de domingo de manhã , trocar figurinhas no Mercado Shangri-la ( até na Tv apareceu) . Figurinhas que sabia de cabeça , as que tinha e as faltantes, deixando as pessoas impressionadas. 

             Ah, sua memória era impressionante. E o poder de observação também . Tão pequeno, tão novinho…

“ Não sei porque você se foi

Quantas saudades eu senti

E na parede do meu quarto

Ainda está o seu retrato…”

              E eu, sempre gostando tanto de você . Você sempre comigo. Sempre.


Escrevi este texto antes do último jogo do Brasil. Meu filho não viu o Brasil campeão da Copa da FIFA, nasceu pós 2002.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O mar

 

                Olho para o mar, impossível não me lembrar de você.

               Foram algumas viagens de férias para perto  do mar. Agora um mar de saudades no separa.

                Um mar de lembranças , de dias que vão ficando mais longes.

                 O mar acalma o coração. Traz paz só de olhar o vai e vem das ondas . Mesmo em dias de vento frio. Ao mesmo tempo, uma melancolia. Uma saudade que vem do fundo da alma. Um questionamento se estaria ou não conosco de férias , nessa época do ano. E outros sem resposta . Ou pior, sem perguntas. 

               No entanto, “ o mar quando quebra na areia “ continua sendo “ bonito, bonito”.

               Mesmo com a sua ausência nesse plano.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Luto

               


               Luto é uma dor que dilacera a alma, arranca um pedaço do seu coração. Luto é sentir saudade todo dia, sabendo ( hoje eu sei) que estará presente até o fim dos dias.  Luto é por a mesa para três pessoas, onde havia 4 lugares postos. Luto é perguntarem se só tenho ela de filha e ter que responder que sim, para não ficar explicando.    

                Luto é visitar o filho no cemitério na véspera do Natal, do Ano novo, no dia do aniversário. Luto é saber que seu filho não adolesceu, não chegou aos 13 anos, aos 14, 15, 16, 17, 18, 19 e não fará 20 anos no ano que vem .            Luto é ter que arranjar forças para levantar da cama e viver um dia de cada vez. 

               Luto é “ arrumar o quarto, do filho que já morreu “.

               Luto é ver seu filho lindo e saudável, partir em 20 dias .

               O luto merece ser respeitado. Tem gente sofrendo,  verdadeiramente, a dor do luto. Merece ser respeitada. Eu, infelizmente posso dizer, que sei que dor é essa.

domingo, 16 de outubro de 2022

Nossas dores

               



                Conversando com uma mãe que perdeu uma filha, falamos de nossas dores. Dores  que só quem passa, sabe.

                A dor das inúmeras despedidas . Dor nos dias que deveriam ser os mais alegres e que se tornaram  os mais difíceis . Dor quando nos perguntam dos filhos que temos . Dor quando comparam dores incomparáveis. Dor do vazio que jamais será preenchido. Dor que surge inesperadamente, sem compreendermos.

              Aprendemos a conviver com essa dor, mas ela está lá. Guardadinha, mas lá. Escondida, mas lá . Embora sorrimos, está lá . No âmago, está ali.

          
             Nosso consolo: sentir  que nossos filhos estão bem . E um dia nos reencontraremos .

sábado, 8 de outubro de 2022

Sobre animais

                Olhei nos olhos da Lili. Ela olha nos meus olhos e atentamente escuta o que eu digo . Como se tudo entendesse. Linda,  com os seus olhos cor de mel, no meio da carinha preta .

                De repente, começo a chorar. Fico imaginando como o João Pedro gostaria de tê-la conhecido. Quanto teria brincado com ela e a Didi, duas cachorrinhas arteiras , encontradas abandonadas, adotadas na pandemia.

               A Meg foi a cachorrinha da infância. Acompanhava as aventuras deles. No esconde esconde, a Amanda perguntava pra Meg onde estava o João Pedro e ela levava até ele. Ele ficava muito bravo. E a Meg não entendia. A Amanda dengava mais a Meg. O João Pedro era o das brincadeiras. Já no hospital, citou a saudade dos amigos e da Meg.

                Ambos sempre gostaram de animais . Os cachorrinhos dos amigos faziam festa para ele. A Brigitte, o Tico, a Nana ( irmã da Meg)  e a Estrela ( que filhote fazia xixi de felicidade quando via o João ).

                 Meu pai dizia que criança e animal reconhece as pessoas boas .

                 Dia 4 foi dia de São Francisco de Assis, protetor dos animais. Recebi de uma amiga, a música de São Francisco , cantada por Ney Matogrosso, na Arca de Noé ( para mim  um dos mais lindos discos infantis). Impossível não lembrar de quando colocava este CD para vocês . Música,  mais uma vez trazendo lembranças. 

                 Que São Francisco continue pelo nosso caminho , dizendo ao vento bom dia amigo, dizendo ao fogo saúde irmão .  E contando histórias para os passarinhos. 

                   E que nós não percamos a sensibilidade de nos encantarmos com os animais, com a natureza. E com os versos e música.

                    Como São Francisco nos ensinou. E você, em seu breve tempo, demonstrou.

sábado, 24 de setembro de 2022

Sete (7)


               São 7 as maravilhas do mundo. São 7 as notas musicais. São 7 os dias da semana. São 7 as cores do arco-íris. As sepulturas possuem 7 palmos. No réveillon, existe a tradição de pular 7 ondas no mar. Na Grécia antiga, existiam 7 sábios e 7 divindades que comandavam a natureza. 

               Na astrologia, existem 7 astros considerados sagrados:, o Sol, a Lua, e os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno. Existem no espaço 7 constelações que possuem exatamente 7 estrelas.

               Na numerologia , o número 7 significa a perfeição. A perfeita integração entre os mundos físico e espiritual, sendo portanto o símbolo do Universo em transformação.

               Na Bíblia, Deus demorou 7 dias para construir o mundo. Existem 7 pecados capitais. Antes de morrer, Jesus proferiu uma frase que tinha exatamente 7 palavras: “Pai em tua mão entrego meu espírito”. 

                Há também a explicação da criação do mundo pelo número 7. O 4 simboliza a Terra e o 3 simboliza o Céu, que juntos foram o 7 que simboliza a totalidade do universo em movimento.

                 Ou seja, são inúmeras as citações do número 7.  Dizem que o ciclo da vida se renova de 7 em 7 anos. Aos 7, 14, 21, 28, etc…

                Aos 7 anos deixamos a primeira infância. Passamos geralmente para uma fase de alfabetização. Aos 14, adolescência. Aos 21, juventude. E assim por diante. Embora hoje os ciclos estejam acelerados.

             E assim, já são 7 anos sem você por aqui. Mais da metade do tempo que tivemos de convívio aqui. Ainda não sei se algum ciclo está fechando. Apenas sei do que vivi, até aqui, nestes 7 anos e do que pude aprender.

               Sempre vou sentir a sua ausência. No dia a dia nesta casa, na imaginação pelo que seria e como estaria, nas datas comemorativas e nas datas de luto, como essa.  

               O luto não é linear. Ressignificamos a vida. Prosseguimos porque temos que fazê-lo. Mas mesmo depois de muito tempo, já são 7 anos, uma folha cai, um por de sol , uma música, traz lembranças. Em datas assim… muito mais . E tenho certeza que assim será durante toda minha estadia por aqui… seja o tempo que for.

               Você se foi… mas você mora em mim. Paradoxal… A morte de um filho é um paradoxo total. A inversão da ordem natural dos fatos. A ausência presente, a presença ausente. O revés de um parto…

               Se soubesse tudo que iria passar, ainda assim escolheria passar por tudo de novo. Por ter tido você por 12 anos e meio em nossas vidas. Nossos 12 anos e meio mais felizes…

              Que se pode amar na saudade. Meu amor por você sempre existirá.

               E assim vamos vivendo por aqui. Um dia de cada vez. Até o nosso reencontro…

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Carta de 7 anos


               Meu amor, são 7 anos sem você por aqui.

               Você faz tanta falta… 

               Sempre fico lembrando de onde íamos, o que fazíamos . E fico a imaginar o que estaria fazendo, onde estaria indo. A promessa de um futuro que não se concretizou. Você, já deve saber os motivos. Eu não . 

              Mesmo sem respostas, os pensamentos ainda perguntam as razões. O inconsciente, sabendo que é vão , também o faz. Mistérios divinos.

              Fico a pensar : como estará por aí ? Será que se cresce do outro lado do caminho? Estará com a altura de um rapaz de 19 anos? Tem mar , areia e bola de futebol? 

               Tolices de mãe. Que eternamente, mesmo impotente, se preocupa com o filho. Já não posso agasalha-lo, fazer comidinhas, massagear os pezinhos.  Dizem que  o “ cuidado é a medida do amor “ . Mas quando está fora do nosso alcance, como cuidamos? 

              Sim, rezando. Até conversando com você . Mas ainda assim, a lacuna está lá. Sempre estará.

              Sinto muito sua falta por aqui. E nessas datas “ a saudade espanca” , não apenas dói .

Sabe que continuamos nossas vidas . Mas este, é um momento só seu. Meu e seu. E assim, teremos nossos momentos exclusivos.

                De um jeito diferente, mas tentando espantar um pouquinho, bem pouquinho mesmo, a saudade enorme que avassala meu coração.

               Amor por toda vida. Enquanto existir vida. Que esteja feliz, aonde estiver.


               Para sempre, sua mãe 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Sobre escutar



               Assistindo uma série , um dos personagens perdeu os pais quando criança, em um acidente de carro , num dia de chuva. E até o presente, não conseguia dirigir em dias de chuva.

               Conversando com a namorada, ela escutou e não desviou o assunto .

              Na sequência, ele agradece por ouvi-lo . Dizendo que ela era diferente. As outras pessoas ( até pessoas próximas) , quando o assunto surgia, ficavam constrangidas, desculpavam-se e rapidamente mudavam de assunto.

               Fazendo um paralelo com o mundo real, bem assim que acontece. Muitas vezes, apenas queremos falar. Não estamos deprimidos ou ficaremos, se falarmos sobre quem se foi. A tristeza, pode vir ou não , independente da fala. Penso que as pessoas não tem paciência para escutar realmente o outro. Não apenas ouvir. 

                Em se tratando de filho, vocês já viram alguma mãe que não gosta de falar deles e de seus feitos? Nós , que perdemos nossos filhos, não temos fatos novos. Apenas lembranças. E divagações de como estariam se estivessem por aqui. Imaginando um futuro que não chegou.

               As redes sociais estão lotadas de fotos de pessoas se divertindo, saindo, viajando e festando . Mas o mundo real não é feito apenas bons momentos.

              E morrer todos vamos ( querendo ou não). Mas nos outros dias estamos vivos. Para viver e compartilhar vivências com os outros.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Quando entrar setembro…

“Quando entrar setembro. E a boa nova andar nos campos”

                Não veio boas novas . Embora cercada de tanta esperança, atendido por um médico conceituado em tão pouco tempo devido uma cirurgia desmarcada. Conseguindo vaga em Hospital de referência. Parecia conspirar tudo para um final feliz . 


 “ Já choramos muito

Muitos se perderam no caminho”

                 Estávamos procurando alternativas para a cirurgia do João Pedro. Achamos que após a colocação do dreno, teríamos tempo para procurar. No entanto, as condições foram mudando. E tivemos que “ correr contra o tempo”. Havia perdido a confiança nos médicos que estavam atendendo por aqui. A possibilidade de mudança para lá restaurou a esperança.

               Infelizmente não foi o que se concretizou. E assim,  7 anos , já 7 anos, conversei com você pela última vez nessa vida, com vida.

             -    Mãe estou com muito sono .

             -    Não filho, não durma agora. Daqui a pouco vai descansar. Conversa comigo 

              -   Tá bem mãe .


            …..  - Amanhã depois da cirurgia a gente se fala. Eu te amo.


                  Não houve “ amanhã depois da cirurgia “.  Descansou. Dormiu. Um sono eterno.

                

                 Desde então, tenho tentado: reinventar uma nova canção que traga  “Sol de Primavera “.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Quase dia 17

           

         


              Quase dia 17. Quase um mês para o dia 17 de setembro. 

               No dia 17 de agosto, meu filho ainda estava por aqui. Lindo, pensava que saudável. Estávamos envolvidos na correria do dia a dia. Leva um para uma escola, outro para outra. Aulas de tênis, futsal, futebol, inglês. Casa dos amigos, amigos em casa. Lanches, presentes de aniversários . Festas de aniversários. 

               De repente, tudo mudou. O que era corriqueiro desapareceu. 

               Do que tenho mais saudades ? É de você no dia a dia. Sentado jogando videogame , deitado no sofá assistindo filmes, ouvindo música, pedindo para fazer massagem nos pés ( que tanto gostava) . De fazer as refeições juntos, de ir ao cinema, de ir para a praia, das conversas e músicas no trajeto da escola, de ver seus jogos de futsal . 

               Nada excepcional. De olhar para você. Dos beijos de boa noite. De saber que estava em casa. De saber que voltaria.

                Hoje não está mais aqui. E não voltará mais para essa casa.

sábado, 30 de julho de 2022

Cuida da passagem do tempo


               “ Tenho um desgosto especial pelo sentimento de arrependimento. Apesar de nobre ferramenta para a mudança,  ele não conserta as coisas passadas e dificilmente traz verdadeira paz. Quando matérias tão delicadas repousam sobre o arrependimento, há conformismo.
              Quando treinava futsal na Arel, eu dividia a posição com um menino chamado João Pedro. Nos divertíamos nos treinos e no clube. Eu gostava dos seus pais e de sua companhia. Até ganhamos o campeonato do clube “ Eurocup” ( guardo até hoje essa camiseta ).

            João Pedro estava treinando, noutro dia não mais. Senti sua falta nos treinos, mas não perguntei por onde andava - pensei que estava viajando. Lembro até hoje de quando finalmente perguntei  por que faltava aos treinos para o “ Puyol” : “ o João Pedro está internado tem um tumor no cérebro. Teve gente que foi até visitar ele…”

               Aquilo foi um choque eu me senti um péssimo amigo, por não ter perguntado antes, por não ter feito uma visita. Algum tempo depois ele faleceu e só percebi verdadeiramente o que era arrependimento, depois de ter visto seu rosto no velório - nunca me esqueci dele.

               Vejo os nossos amigos de infância na faculdade, em amistosos da atlética, namorando e mudando de cidade.

             E toda vez que penso no tempo, penso nele.

             De certo modo, João Pedro plantou algo dentro de mim que fez ser alguém melhor e alguém que dá o devido valor às pessoas que me rodeiam . Seria impossível explicar a mudança que ele provocou em mim”.


Sobre o texto: o autor explica  que é um excerto de um texto maior que escreveu sobre a avó para familiares. O tema: cuida da passagem do tempo.

E acrescenta : “Não sabia se devia tocar no assunto de maneira mais profunda, pois tenho medo de te fazer sofrer. Não compreendo o luto de uma mãe. “



PS: Imagina a minha emoção ao receber esse texto de um amigo do meu filho, de 18 anos. Tanta sensibilidade. Obrigada por ter compartilhado comigo. 


Publicado sob autorização do autor

sábado, 16 de julho de 2022

Perfume



               Fazia muito tempo que não acontecia. Senti o cheiro de rosas, do nada . No banho. Nada por perto que tinha esse aroma.

              Algumas vezes acontecia. Estava numa missa e sentia o cheiro de flor. Outras pessoas do lado, não sentiam.

              Ao sair do enterro do meu filho, um cheiro forte, de algo parecido com jasmim,  me acompanhou. Também nada por perto que justificasse esse olor.

             No entanto, de certa forma, quando aconteceu, este perfume me trouxe paz. Tranquilidade ao coração .

             Sim, como dizia Shakespeare “ há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”

sábado, 25 de junho de 2022

“ Quanto mais angustiado você estiver, ame mais.”

            


                 


                “ Quanto mais angustiado você estiver, mais aflito, ame mais . Faça algo de concreto”.

               Fiquei pensando na sensação que temos ao ajudar em campanhas beneficentes. Ou ajudar espontaneamente alguém que necessite. Muito realizador.

               Lembrei das 5 linguagens de amor, citadas no livro de Gary Chapman, sobre como as pessoas manifestam o amor de formas diferentes: dando presentes, gastando tempo de qualidade, com palavras de apreço, serviços e toque físico . 

                Temos diversas maneiras de manifestar este amor e com diferentes pessoas . Com os filhos, cônjuge, pais, amigos ou pessoas que passam circunstancialmente em nossas vidas.

               No caso do luto, vemos muitos casos em que os enlutados se envolvem em campanhas diversas que acabam ajudando na resolução do luto. Uma mãe que perdeu o filho engasgado na escola, trabalhando com primeiros socorros com atendentes de escola. Uma outra que perdeu o filho em cachoeira, fazendo campanhas de conscientização sobre os acidentes em cachoeira. Outra mãe que perdeu a filha de Câncer , realizando arrecadação de alimentos para o Hospital do Câncer. Os exemplos são inúmeros. 

               E podem acreditar: quem ajuda é quem mais ganha. Mesmo diante do cansaço, a realização é maior em contribuir para uma causa em que se acredita.

               Ou simplesmente amar os que estão ao nosso redor : com abraços, sendo um ouvinte atento, realizando gestos de gentileza, elogiando verdadeiramente. 

               Assim esquecemos um pouco das nossas angústias e aflições. E até podemos perceber que tem gente com problemas muito maiores que o nosso. Sempre.


( escrevi este texto, após escutar a pregação do Otávio Santos, no momento de oração da Adma)

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Aurora


             



               Há tempos não via um nascer do sol.  A natureza traz uma conexão incrível com o Divino. Traz paz. Acalma a alma . E de certa forma me traz você, neste quase dia 17.

              Aqui eu medito. Aqui eu me encontro. Aqui eu o encontro, meu filho.

               A aurora rompendo a escuridão e trazendo raios de luz e de esperança. Trazendo o reencontro.

                Embora esteja sempre em mim, embora tenha um lugar só seu, hoje é quase dia 17. A sensação de presença na ausência, ou ausência presente é mais intensa.

               O amor ? Sempre. A saudade também….






Ps: já é dia 17. Hoje, também a missa de sétimo dia, do pai do meu querido amigo Miguel. Não sabia o que dizer nessas ocasiões. Hoje digo: sinta-se abraçado, acolhido. Que o seu coração encontre a paz. O dele, certamente já encontrou. E o amor que os une é eterno.

domingo, 29 de maio de 2022

Férias


               Férias incríveis. Lugar lindo, boa comida, boa conversa. No entanto, sinto falta de vocês comigo. Tenho o tempo para mim, mas lembro de quando carregava pazinhas, baldinhos, bolachas e pedia batatas fritas . Não é um paradoxo ?

             Cada tempo é um tempo. “ Tempo de plantar, tempo de colher “ ( como diz

a Bíblia em Eclesiastes ). Não deixo de aproveitar o momento presente. Mas como diz a música: “ a vida é trem bala” . Por isso, mesmo com as noites insones , “ segura seu filho no colo” , quando piscar ele cresceu. Brinque muito , aventure-se com eles . Porque passa muito rápido. Depois fica a saudade .

               Que tenhamos muitos momentos lindos, para que venha a saudade. Ainda bem que tivemos.

terça-feira, 17 de maio de 2022

Coração apertado


              Carol, seu filho está lindo. Ontem meu coração doeu, ao ver a falta que ele sente de você. Sei que deve estar olhando por ele de onde estiver. E talvez olhando pelo meu filho, por aí também. 

              Fomos à escola que foi meu caminho diário por mais de doze anos. Que traz tantas memórias. Que ainda possui alguns professores e funcionários da época. 

             Doces e dolorosas recordações. 

             Muitas lembranças são assim… dizem que depois de um tempo fica apenas a saudade e a gratidão. Não sei, ainda não cheguei lá. Mas imagino que mesmo depois de muito, muito tempo, ainda vai doer. Não sempre, mas vai doer. Não continuamente, mas vai doer.


( escrito em algum dia em abril/22)

sábado, 30 de abril de 2022

Carta para Marielza



Finalizando a primeira parte da Campanha Nanda Sempre Viva, em prol do Hospital do Câncer de Londrina, reproduzo esta carta escrita para a mãe da Nanda,  em abril do ano passado.

Carta para Marielza 

          Não conheci a Nanda , mas penso que era uma pessoa incrível pela mãe que tem. Transformar toda essa dor em ajuda ao próximo, deve fazê-la sorrir de onde estiver. Afinal, foi ela que começou  essa campanha linda. Trazendo um pouco de alívio através de uma água de coco geladinha, em meio a tanta dor e sofrimento. 

           Este ano, no meio de um turbilhão de providências,  dentro de uma pandemia, mas conseguindo mais uma vez  “ entregar um caminhão”, como desejava, com os 10 anos da campanha.

          No entanto, hoje é um dia de Nanda ( não que os outros não sejam).  Como eu li em algum lugar, “ tem dias que a saudade dói, em outros ela espanca “.  Ainda que correndo para finalizar a campanha, em algum momento  sei que vai parar e lembrar dos 10 anos. Não tem como ser diferente.  E o coração vai apertar. Só quem passa por isso,  sabe como é . E o que se sente em datas assim.

         O que posso dizer ? Sinta-se abraçada, acolhida. Saiba que, fazendo o que faz, torna a Nanda sempre viva nos corações das pessoas . Mesmo para pessoas  que como eu, não tiveram o privilégio de conhecê-la, mas através de você aprenderam a amá-la.

         Fique em paz... e que a “Cidinha” esteja sempre ao seu lado . Pois Ela sabe que dor é essa.  E que Deus sempre a abençoe.

sábado, 16 de abril de 2022

Pessach, Páscoa !


                

                Desta vez o domingo de Páscoa cairá em um dia 17. Não me lembro que tenha coincidido nos 6 anos anteriores.

                Talvez para refletir.

                 Páscoa  vem do latim Pasha, que se origina da palavra hebraica Pessach  que quer dizer passagem. No antigo testamento, a libertação do povo israelita do Egito. 

                 No novo testamento, a ressurreição de Cristo.

                Passagem para uma nova vida, liberta da escravidão.  Ressurreição para vencer a morte.

                Hoje nesse dia, lembro da sua passagem. Desta vida para outra. Deste plano para outro.

                Lembro que o Amor vence a morte. Do Amor que permanece nessa vida e além dela. Da esperança do dia do reencontro. Da “esperança de vida no meu coração “.  Da crença que nos faz continuar e seguir em frente. Do Amor para sempre. Eternamente.


              

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Uma fresta de luz


               


              Passei pelo seu quarto, uma fresta de luz pela porta. Tive a impressão que estava ali. Mas era apenas a luz da janela que estava aberta. Lembrei que você não estava por aqui . 

 

              Pela segunda vez estou tendo que aprender a ser mãe, sem a presença física. A primeira quando João  partiu para uma viagem sem retorno. E agora, com a mudança de fato da filha. Sim, são fatos completamente distintos. Mas o ninho está vazio . 

              Tudo é ensinamento. Mas amar na saudade é um aprendizado duro. E difícil.


Ps:  estou feliz. Chegou hoje 

domingo, 3 de abril de 2022

Tristeza


              Estou triste. Uma tristeza que surge repentinamente e não quer sair. Hoje não tem data comemorativa, não tem fato com gatilho , mas simplesmente bateu tristeza. 

              Voltei ao momento do velório do meu filho. Só de escrever parece uma ideia inconcebível. Velório do filho. 

              Lembro da maioria dos fatos e de boa parte das pessoas que ali passaram ( segundo meu primo mais de mil ). E de diversas expressões quando os olhos encontravam o meu. Às vezes questionando o que fazer, ou o que falar, ou até desviando. Sem coragem de me encarar. Ou de encarar os fatos. Ou o questionamento oculto, escondido no âmago : se aconteceu com ela será que não poderia acontecer comigo? 

                Lembro da amiga com um copo de água com remédio homeopático atrás de mim, lembro da expressão de dor do melhor amigo com 12 anos apenas, lembro da presença de vários professores da escola, de todo time de futebol, dos amigos de outras cidades, dos colegas, das meninas da limpeza da repartição, dos que questionaram viverem tanto tempo e meu filho partir tão cedo, dos que sentiam pena, dos que achavam que conseguiam imaginar  um pouco da nossa dor, dos que sentiram essa dor.

                Saindo do cemitério, senti um cheiro completamente diferente. De flores. E nada que justificasse, por perto. Outras vezes senti, e outras pessoas ao lado não. De alguma forma, esse aroma me acalmou.

                Preparando o enfrentamento de chegar em casa, agora sem a presença do João Pedro. Fisicamente, nunca mais.


“ Tristeza por favor vai embora

Minha alma que chora

Está vendo o seu fim…”

 

Posso estar triste, mas graças a Deus não sou triste.

domingo, 27 de março de 2022

Faltando um pedaço

             


                Pela primeira vez , desde que me tornei mãe, passei meu aniversário sem a presença dos meus filhos.

               Sensação estranha . 

               Muitas vezes escrevi sobre datas comemorativas e como elas mudam após a partida de nossos amados. Com o “ amor e a agonia brigando horas a fio” e “ o coração de quem ama faltando um pedaço “ , como já dizia Djavan.

               No entanto inteiros ou faltando um pedaço, o tempo não para. A vida segue e as comemorações se repetem . Novos aniversários, dia das mães , dia dos pais, Natal, ano novo, etc..Acrescida da celebração que não  gostaríamos de passar: o dia da morte, ou da passagem de quem se foi . Dia de honrar a memória de nossos amados, da gratidão de termos tido eles em nossas vidas e de muita saudade. Ainda que silenciosamente.

                Conversando com um amigo, ele me disse: você me parece triste.  Fui cercada de tanto carinho e mimos, inúmeras msgs de amigos, ligações, flores, presentes e abraços possíveis ( e mesmo virtualmente eu me senti abraçada). Imensamente grata a todos. Por que certa melancolia  me acompanha?

               Nessas datas, inevitáveis as lembranças de outros tempos. Memórias felizes. Quando ainda “ não faltava um pedaço “.