quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Não foi a mesma coisa, faltou você



“Não foi a mesma coisa, faltou você… mas eu te deixei por aqui como pude, como era possível .  Chegou bem antes, nos preparativos, nas luzes que piscam, nas músicas. Continuou por aqui na ceia, no almoço, nas conversas, nas fotografias, continuou por aqui na saudade. Continuará por aqui sempre…” ( Teresa Gouvea @laçoselutos)


               Não foi e nunca será igual novamente. Final do ano as lembranças intensificam. Nos preparativos, desde a época em que adoravam montar a árvore de Natal, decorar a casa com luzes e papai Noel, mudar a marcação no calendário do advento. 

                 No dia de Natal,  quando deixava a bota de tecido para o Papai Noel trazer o presente pedido, na ceia ( reduzida a 7 pessoas) , no almoço na chácara com o tradicional amigo secreto, nas fotografias de família em que você não aparece. Continuará por aqui sempre. Nos nossos corações , nas lembranças dos natais passados e nos natais futuros. Sempre haverá você. Deixo você como posso.

                Daqui alguns dias finda 2021. Para você não chegará 2022, sequer chegou 2016. No entanto, estamos mais perto do reencontro. Cada dia um pouco mais.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Véspera de Natal

         


           Ontem foi aniversário da sua irmã . Fiquei pensando : quando você partiu nós perdemos o filho. Seus avós o neto, único menino. Sua prima, o único primo. Sua irmã, o único irmão . Ninguém morre sozinho: morreu um filho, um neto, um primo, um irmão , um amigo, um aluno, um colega.

           Um lugar vazio se instalou, um espaço não mais ocupado. Na mesa da refeição, na casa da Bathan, na sala de aula, no time de futebol.

          Seguimos aprendendo a conviver com a sua ausência física por aqui. Um aprendizado constante. E sempre.

           Já são seis Natais sem você .  Sim,  O aniversariante deve ser comemorado e honrado. Mas as comemorações já não são as mesmas. Saudade que aperta.



( escrito dia 22/12/2021)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Vento no Litoral


Vento no Litoral 
(Legião Urbana)
De tarde eu quero descansar, chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil eu sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua e se entregar é uma bobagem
Já que você não está aqui
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?
Ei, olha só o que eu achei, cavalos-marinhos
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora




domingo, 12 de dezembro de 2021

Gratidão

          


         


          Alguns dias atrás foi celebrado o dia de ação de graças. Comemoração importante para os americanos, em agradecimento à colheita.

          Quando me deparo com tantos casos de depressão, de suicídio, de síndrome de pânico agravados pela pandemia, penso que devo agradecer pelo meu processo de luto.

           Passei por ele, sim com muito sofrimento, mas lúcida . Não precisei de medicação, embora reconheça que muitas vezes ela é necessária.

          Meus pilares foram a família, os amigos, a terapia e a fé.

          Ter por quem prosseguir, acreditar num propósito ( mesmo sem sabermos ao certo) , crer num reencontro e que a vida  não termina por aqui ( estamos apenas de passagem).

          Ajudar quem precisa, tirando o foco do próprio sofrimento, também é uma forma de auto ajuda.

         Compreender que a ausência de quem partiu não desaparece e que o essencial é aprender a  conviver com ela .  Ressignificar  a própria existência. 

          Dias de tristeza  virão. E  de saudade mais intensa também. Respeitar essa dor é fundamental. Auto conhecimento e auto cuidado são necessários . Seguimos vivendo um dia de cada vez . 

         No entanto, agradeço o tempo de convivência terrena ( hoje estou nos dias bons) e a Deus por ter me sustentado. 

          Pois como li, “para as mães que perderam um filho, sobreviver já é um milagre”.

sábado, 27 de novembro de 2021

Nossos amigos


“ E às vezes quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, por que eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. “   Vinicius de Moraes, sobre os amigos.


           Em todo o processo do luto, os amigos foram fundamentais. E mesmo antes dele. Nos dias mais difíceis de nossas vidas , eles estiveram ao nosso lado. 

           Amigos que ficavam na espera do hospital, mesmo sem poder entrar. Amigos que vieram oferecer ajuda de diversas espécies: emocionais, financeiras, espirituais. Amigos , que mesmo passando momentos difíceis em suas vidas ( que depois soubemos), vieram nos prestar apoio. Amigos que prestaram ajuda profissional, acompanhando todo o tempo de internação. Amigos de muitas orações. Somos privilegiados de tantos amigos assim.

          No entanto,  pessoas que se encontravam próximas, não estiveram mais. Num momento que muito precisávamos… muitas vezes apenas da companhia, da presença. Sem nada falar…

          Outros nos cercaram de tanto carinho, não nos deixando sozinhos. A flor que ganhei no primeiro aniversário do João Pedro, após a sua partida , sempre floresce nessa data. Os primeiros dias 17, sempre procuravam estar presentes ( atitudes estas inesquecíveis). Amigos irmãos.

         Assim é a vida… alguns são para sempre. 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Kintsugi

   
         
        

           Seu pai adorava o dia do aniversário, acordava feliz, sempre feriado. Depois da sua partida, não conseguiu mais comemorar da mesma maneira.

          Celebrar a vida, sem sua presença causa certa estranheza . Quando estava no hospital, tentamos “negociar” com Deus, para que Ele nos levasse em seu lugar. Ele não nos ouviu, sua missão havia terminado, mas a nossa não. O lado “ sombrio dos mistérios divinos” , além de nossa compreensão total.

          Não me destruí, Ele me sustentou. No entanto, algo se quebrou.  Não possui a mesma plasticidade, a mesma vibração.

          No Japão, existe a arte  do kintsugi ou kintsukuroi que consiste em colar as partes quebradas de um objeto de porcelana com uma resina de ouro em pó. Ao invés de disfarçar as fissuras, elas se tornam evidentes, valorizando os objetos e tornando alguns, mais  apreciados que antes de quebrar. Objetos novos.

          O processo de secagem é um fator determinante, no kintsugi. A resina demora semanas, ou até meses, para endurecer.

         Assim , como na vida. As cicatrizes demoram para secar. E estão lá, evidenciadas. Podemos até  ser  melhores agora, diante da resiliência e do amor próprio. 

         Mas eu me pergunto, a que preço ? Alto, muito alto.

sábado, 6 de novembro de 2021

Paciência

           Assistindo  a um seriado, deparei com a seguinte cena: uma mãe tem um filho, com um problema congênito, que passa boa parte do seu curto tempo de vida ( 4 anos) em tratamento num hospital. Após a morte do filho, essa mãe retorna várias vezes a este local. Embora as lembranças fossem dolorosas, queria conversar com quem tinha conhecido seu filho e ouvir que era a mãe do fulano, como a chamavam no hospital.

          Quando falamos dos nossos filhos que partiram, normalmente as pessoas mudam de assunto. Acham que falar traz sofrimento. Sentem-se incomodadas ( creio que a mudança de assunto muitas vezes é por elas e não por empatia). Mas as mães que perderam seus filhos querem falar,  contar as histórias que se encontram incorporadas a elas. Tal como uma “ mãe de primeira viagem” adora contar dos primeiros passos, da papinha, das travessuras dos filhos. Nós não temos fatos novos, apenas as lembranças. Mãe sempre será mãe, com os filhos presentes neste mundo ou não. E mães gostam de falar dos filhos. Será que o mundo pode compreender?

          Certa vez, uma mãe que havia perdido a filha pediu para que fosse a casa dela, porque achava que eu a compreenderia. Pensei muito em como agiria, o que falaria. Depois descobri: o que ela mais queria era contar a sua história. Poder falar sem que fosse interrompida ou censurada. Ou achar que perturbava os outros.

          Como diz Lenine:

“A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência

…..

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei, a vida não para “

 

          Nem sempre a paciência se manifesta. Nosso mundo parou por um tempo, mas a vida não para. 

sábado, 23 de outubro de 2021

Quando uma mãe perde um filho

         


         “ Quando uma mãe perde um filho, todas as mães perdem um pouco também ”, lembrei dessa frase enviada por uma amiga.

           Impactada pela morte de uma menina ( para mim menina ) de 20 anos. Um  acidente de moto, dentro da cidade. Fatalidade. Sobrinha de amigos. Tantos planos pela frente que não serão concretizados. O futuro roubado, o futuro que não vem.

           Ao receber a notícia, pensei na mãe desta moça (minha identificação é feminina). Quanta dor ao perder sua única filha. Em um momento junto e repentinamente, sem a presença física. A notícia do acidente, a esperança da recuperação,  a espera de um milagre.  Parece, mas não é, um pesadelo que não  desaparece ao acordarmos.

           Quantas mães não passaram por isso? Quanta dor. E depois a saudade constante…

          Não a conheço, mas infelizmente sei a dimensão desta dor. E a consequência dela em nossas vidas.

         Como lido em outro texto, “ o fato de sobrevivermos já é um milagre” .  E assim, nós sobreviventes seguimos. E assim, nós milagres de Deus prosseguimos.  Por aqueles que ficaram. Por aquele ou aqueles que se foram, aguardando o dia do reencontro.

sábado, 16 de outubro de 2021

Vídeos

          



            Recebi um vídeo lindo, de um casal dançando alegremente na chuva. Por aqui, tem chovido bastante. Como uma amiga disse, às vezes cai uma folha e lembramos de fatos e pessoas queridas. Ou como diz a música “ e o vento que fala nas folhas, contando as histórias que são de ninguém, mas que são minhas e de você também…”.

           E assim me lembrei do último aniversário que comemoramos juntos por aqui, numa chácara. Estava quente, era fevereiro. Jogaram e brincaram muito na chuva. Não sei o que os pais acharam, mas estavam encharcados e felizes. Nas fotos do parabéns, todos molhados.

             Foi bom,  muito bom. Como o casal de dançarinos dançando felizes na chuva.

           “ São coisas de momento

              São chuva de verão …”

            E ainda, vi a filmagem do aniversário de 15 anos da Carol. Nos 4:40m aparece o rostinho do João Pedro. Filmagem que deve ter sido a última. Último registro dele em movimento. Impossível as lágrimas não escorrerem . Saudade que dói. 

            “ Momentos meus

               Que foram seus

               Agora é recordar…”

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Criança

       


         O dia das crianças ainda mexe comigo. Talvez porque a Amanda cresceu e o João Pedro partiu criança (começando a adolescer), portanto permaneceu para sempre na infância.

         As lembranças todas são deste período. Não saberei como seria o João Pedro adolescente ou adulto.

        Os sobrinhos cresceram : ou adolescentes ou adultos, na sua maioria. Os afilhados também.  Brinquedos, agora são poucos.

         Tudo passa, tudo muda . Mudaria de qualquer forma. Mas ainda machuca pensar que ele ficou na infância. O futuro que não chegou, nem chegará . Abruptamente mudado.

           Assim diz a música que muito cantamos juntos:

“  E o futuro é uma astronave

   Que tentamos pilotar

   Não tem tempo, nem piedade

   Nem tem hora de chegar 

   Sem pedir licença, muda nossa vida

   E depois convida a rir ou chorar… “

            Nesse caso, chorar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Lembrança de seis anos

           

           


           No dia 17 de setembro, quando fazia 6 anos da sua morte, postei a lembrança do aniversário de 6 anos.  Com a sua letrinha de quase seis anos, agradecendo os amigos por terem ido brincar. 

            Recebi várias mensagens lindas. Duas ,em especial, me tocaram profundamente.

           Do pai de um amigo do meu filho, dizendo da emoção de ter visto a postagem e do privilégio de ter convivido e do seu filho ter tido a amizade do João Pedro, no curto tempo que esteve conosco. E que esta data sempre os deixavam emocionados, pelas lembranças do pai e do João Pedro.

           E a de um grande amigo dele, contando ter acompanhado a missa e lembrando da recordação do aniversário do João Pedro de 6 anos, que ele guardava  ( estavam lindos com seus rostinhos de cinco/seis anos - sorridentes na foto).  Que tinha passado muitos momentos felizes ao lado do João Pedro e que agradecia a Deus por ter nos abençoado com a sua presença. E que com certeza, o João Pedro estava bem e que Ele confortasse o meu coração e da minha família.

          Como disse Cora Coralina : “ Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”.

          Na sua breve estadia por aqui, sinto o quanto tocou o coração das pessoas . E continua tocando. O meu, sempre.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Seis anos


            O improvável, o impossível, o impensável ao menos para a minha mente e o meu coração aconteceu. Você partiu antes de mim. Num mundo ideal, nenhum pai ou mãe deveria se despedir de um filho assim.

            Seis anos já . Não sei dizer se faz muito ou pouco tempo.  Muito, muito, muito tempo pela saudade diária. Sem eu ver seu rosto, sem sentir seu cheiro, sem ter seus beijos, carinhos e abraços. Parece uma eternidade.

           E pouco tempo, pela presença presente na ausência. Por tudo que continua aquecendo nossas vidas. Pelas lembranças que “ parecem que  aconteceram ontem”,  pois estão eternizadas no meu e no coração dos que o amaram e o amam. 

           Como disse Guimarães Rosa: “ As pessoas não morrem, ficam encantadas”. E assim sigo encantada por você . Você que me encantou por aqui, continua me encantando em lindas recordações.

          E assim sempre será.

          Saudades infinitas, meu amor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A cirurgia

          



         Vi a pouco no Face: nesse dia você foi operado. A terceira e decisiva  cirurgia, em tão pouco tempo. Para quem nunca havia sido internado, nem quebrado um dedinho.

          A cirurgia marcada às 8 horas. As cirurgias da manhã terminaram e você continuava no centro cirúrgico. As cirurgias da tarde acabaram e a sua cirurgia continuava. As cirurgias da noite findaram e somente seu pai e eu, na sala de espera. Espera mais que agonizante. Às vezes me pergunto, como consegui este enfrentamento. Desta espera e de outras que vieram. Somente de madrugada,  encerrada a cirurgia, o médico veio nos dizer que o resultado da biópsia havia sido inconclusivo. 

         Depois, soube que tinha tido uma parada cardíaca, antes da cirurgia começar.

        O tempo passou, mas essas recordações fazem reviver momentos difíceis, momentos dolorosos. Embora não soubesse, momentos  em que começava a se despedir… a partir.


“O trem que chega

É o mesmo trem da partida

A hora do encontro

É também despedida..”

( Milton Nascimento e Fernando Brant, Encontros e Despedidas)


( Escrito em 2 de setembro)

sábado, 28 de agosto de 2021

De repente

            


             De repente, a casa silenciou. Sem o barulho do videogame ligado, as músicas do U2 e do Coldplay, sem briga entre irmãos, sem provocações com a Meg.

              De repente, não mais que de repente ( como diria o poetinha).

            “ … fez-se …de triste o que se fez contente”

             “ …. e da vida uma aventura errante

              De repente não mais que de repente “.

              E assim aconteceu.

              Tempo de recordações difíceis.

domingo, 22 de agosto de 2021

Oração ao tempo

           


          Quisera eu ter uma máquina do tempo para poder voltar seis anos e alguns dias . Quando a vida parecia ser mais perfeita, embora não percebesse. Sim, tudo tem seu tempo. 

ORAÇÃO AO TEMPO

(Caetano Veloso)

 És um senhor tão bonito 

Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro em um acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo

O que usaremos pra isso
Fique guardado em sigilo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Apenas contigo e migo
Tempo, tempo, tempo, tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Portanto, peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Oração



          Começando o período mais difícil do ano para nós . Dia 17 de agosto você estava em casa: estudando, jogando futebol, tênis, brincando com o videogame. 

          Uma semana depois, saiu para nunca mais voltar. Suas chuteiras e camisas de futebol ficaram abandonadas. A camisa do campeonato próximo, sem  chegar para você.  A Meg esperando todo dia, sem entender sua ausência. Ainda não compreendo. Creio que não cabe a mim, compreender.

           Lembrei da primeira oração que aprendi e que ensinei a vocês:

           “Com Deus me deito

             Com Deus me levanto

             Com a graça de Deus 

             E do Divino Espírito Santo”


            Que assim seja.

sábado, 7 de agosto de 2021

Dia dos pais, dia dos filhos




       “ Alguma coisa está fora da ordem…”

         Alguns sem os pais, ainda que tivessem uma perspectiva longa de vida. Outros sem os filhos, invertendo a ordem natural dos fatos.

         Dói, dói, dói..

         Que os órfãos encontrem algum colo.

         Que os que foram atingidos pela dor sem nome, encontrem a paz.

          Dia dos pais, dia dos filhos. Pois um não existe sem o outro.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Voos

             


                 Hoje passei pela porta do seu quarto. Estava entreaberta, mas você não estava lá . Desta vez é por pouco tempo, mesmo assim dá um aperto no coração. Terei que acostumar com a sua ausência por aqui. Sei que você está buscando seus objetivos, crescendo. Racionalmente eu sei. No entanto, o coração tem outras razões.

                Passei pela porta seguinte, estava fechada. Não estava, nem estará mais lá. Ainda tem algumas camisas de futebol, a fantasia do Homem-Aranha, a roupinha do batizado e o macacão minúsculo que vestia ao sair da maternidade nos meus braços (carinhosamente escolhido). Nó na garganta desta vez.

                 Síndrome do ninho vazio ? Talvez. Porém, diferente.

                 Voa minha filha, seu ninho de raízes estará sempre por aqui. 

                  Meu filho, você voou longe demais. Passarinhou encantado.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Reminiscências

         


            Hoje acordei com muitas recordações. Recebi um vídeo do “ Hino dos elefantes de Olinda”:

“ Olinda, quero cantar

A ti, esta canção

Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar

Faz vibrar meu coração

De amor a sonhar, minha olinda sem igual

Salve o meu carnaval”.


            Passei o Carnaval em Olinda, pela primeira vez, com 17 anos, já  na faculdade. Essas reminiscências trazem um período com poucas preocupações. A vida era mais leve, um futuro inteiro e muitos sonhos. Bate saudade de quem eu era.

             Acontecimentos modificam tanto a nossa vida que não voltamos a ser o que éramos.

             E ainda:

             “Ninguém muda ninguém. As pessoas mudam pela auto percepção, ampliação da consciência, e outras tantas vezes, pela dor”. 

              Penso que a dor muda a nossa auto percepção, a ampliação da consciência e compreensão de pessoas/fatos.

             Talvez tenhamos nos tornado pessoas melhores. Mas a que preço?

             Nada volta a ser como era. Nem os fatos, nem o nosso âmago.

             O que nos resta ? Olhar para o alto e seguir em frente. Por nós, por quem caminha conosco e por quem está “ do outro lado do caminho”. Afinal,  “a vida continua, linda e bela como sempre foi”.



Ps : a primeira citação não identifiquei a autoria. A segunda é de Santo Agostinho 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Acalanto



Acalanto

( Dorival Caymmi)


https://youtu.be/ZKS7h05sU4c


É tão tarde
A manhã já vem,
Todos dormem
A noite também,
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném;
Lá no céu
Deixam de cantar,
Os anjinhos
Foram se deitar,
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar:
"Boi, boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta “


Sempre cantava essa música para a Amanda e o João Pedro dormirem. Descanse, meu querido. Onde estiver.



https://youtu.be/ZKS7h05sU4c

domingo, 11 de julho de 2021

Sobre despedidas


           Nenhum morto morre sozinho. Com ele, morrem no mínimo dez ou mais pessoas de modo direto e, indiretamente, uma multidão”. Do sociólogo Roberto Damatta, sobre a tragédia brasileira. 

           Ou seja, quantos milhões de enlutados temos no Brasil no momento?

            Semana passada a Carol perdeu o avô. Meus sobrinhos do coração perderam um dos 4 avôs por eles adotados. A Marisa perdeu a irmã. Só na semana passada.

            Durante esse tempo a Silvia, a Cláudia e o Raildo perderam a mãe. A Ana Claudia, a Bibi, a Lucy, a Simone, a Elisa e o Marcelo perderam o pai. A Edna perdeu o irmão e a sobrinha. A Carla perdeu o companheiro de uma vida. O Carlos perdeu os irmãos. Isso pensando rapidamente. Todo dia tem postagens em redes sociais pedindo orações. Ou falando de luto.

           Despedidas complicadas, nessa época de pandemia. Seja por Covid ou não. Sem poder abraçar os que ficaram. 

           No velório do João Pedro, lembro de alguém ter perguntado um pouco antes do sepultamento,  se queria que pedisse para as pessoas saírem para poder nos despedir. Respondi que não era necessário, pois já havia me despedido dele no hospital. Sim, tive tempo para me despedir dele. De segurar suas mãozinhas. De entregar meu filho a Deus para que fosse feito o melhor para ele ( creio que foi o ato mais difícil em toda minha vida) e pudesse partir em paz. Ainda assim, tive esse tempo.

            Os familiares, amigos deles, amigos nossos puderam se despedir. Muitas pessoas vieram se despedir e prestar a solidariedade. Reconhecer a nossa dor através do olhar ou do abraço e experienciar/ vivenciar parte dela.

           Por ser tão surreal, para nós como pais, a morte de um filho ainda mais com tão pouca idade, esse processo de despedida ajuda na percepção da concretude da morte.

         Na missa de sétimo dia, várias pessoas ficaram para fora da Igreja. E caiu uma chuva no dia. Ainda assim, parei de receber os cumprimentos mais de uma hora depois.

        Não deixaram de ser várias despedidas.

        Despedida das suas roupas e pertences ao arrumar o seu armário. Despedida em cada vez que visito você no cemitério. Despedida em cada aniversário sem você por aqui. Despedida em cada data comemorativa em que sua ausência se torna mais presente: Natal, ano novo, Páscoa, dia das  mães, dia dos pais, nossos aniversários. Despedida em muitas vezes que rezo.

           Nesta semana, li um texto de Teresa Gouvea que tão bem expressa  esse sentimento:  “ não nos despedimos uma única vez, porque a saudade não tem lugar fixo, ela anda pelos lugares que andamos e, a cada lugar inaugurado sem aquele amor, ocorre uma nova despedida”. 

           Além da vida ser a “ arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida” , penso que também é o da despedida, embora haja tantas saudades pela vida.




Ps: ontem a Mariah perdeu o avô e na quinta perdi minha tia

terça-feira, 29 de junho de 2021

“Cantar é rezar duas vezes”

“ Cantar é rezar duas vezes”


              Fiquei pensando sobre esta frase de Santo Agostinho  que o cunhado citou em uma conversa e que havia lido na mesma semana em um livro. Coincidência? Não sei.

               Pensei  nas canções que me fazem lembrar você. Do Acalanto do Dorival Caymmi que cantava pra vocês dormirem: “ é tão tarde a manhã já vem. Todos dormem a noite também. Só eu velo por você meu bem… “.

             Das cantigas de roda clássicas : “ a canoa virou , por deixar ela virar…”. Você gostava do “ pai Francisco entrou na roda, tocando o seu violão ….”.

             Dos contos de fada , com parte cantadas ( lembranças dos discos coloridos da minha infância):         “ pela estrada afora eu vou bem sozinha, levar estes doces para a vovozinha” ou “ eu vou, eu vou pra casa agora eu vou…”.

             E dos CDs da palavra cantada: a princípio cantadas “ o que é que tem na sopa do neném..” . Posteriormente, interpretadas sob a direção da Amanda: “ a noite no castelo…” e a melhor parte “ vira minhoca…” devidamente contorcendo no chão feito minhoca.

            Depois veio o primeiro CD que me pediu para comprar: do Black I Peas, escutado no aniversário de um amigo. E o telefonema dizendo que já estava cansado de ouvir aquele CD e queria um do U2 ( devia ter uns 7 anos).

            Antes as músicas da escola: “ perdi meu anel no mar, não pude mais encontrar”. E toda a sequência das músicas de festa junina: começando com o pezinho “ai bota aqui, ai bota aqui o seu pezinho…”,  passando por “vamos dançar , em volta da fogueira…” , chegando no coco e no pau de fitas ( dançado, mas não cantado).

           E as músicas que pediam para eu cantar: “mãe canta a música da lua” . E lá ia eu: “ a lua quando ela roda é nova, crescente ou meia lua…”.  - de novo mãe : “ minguante ou meia…”.

          Ah , você e a Vivi cantando a música do Frozen: “ você quer brincar na neve…”  e brincando com os agudos. 

          O astronauta que foi a música que tocou na última apresentação de piano ( havia parado de estudar).

         A música que tocou na sua primeira comunhão : “ minha luz é Jesus, meu caminho é Jesus…” numa noite linda, sob uma uma lua imponente . E no hospital, na capela “ quero sentir o calor das suas mãos…”

         E ainda, na missa de sétimo dia com a participação dos seus amigos da escola: “ tu és Senhor,  o Bom pastor por isso nada em minha vida faltará ..”

         Como lembro disso tudo? Não sei. Memória auditiva? Não, mais que isso.  Memória afetiva.


Ps: coincidentemente hoje é dia de São Pedro e São Paulo , últimos santos festejados nas festas juninas.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Sobre Pérolas no Asfalto

     


          “ Não fujo das recordações com a ilusão de que me enfraqueceria, ao contrário tem me fortalecido. Não evito as ruas que nos eram conhecidas, nem as pessoas que conviveram conosco. Não evito ouvir as músicas que cantávamos, nem os lugares que foram cenários de inefáveis lembranças. Percorri e recordei, em meus passos vacilantes…Fui enfrentando, com confiança perene, fé robusta e esperança fértil as histórias tão conhecidas e marcantes, os aromas que me embriagavam a mente, as cores vibrantes e tão peculiares que anunciam a primavera e o verão Todas essas lembranças me devolvem minhas crianças e meu marido.”

( Extraído do livro Pérolas no Asfalto da autoria de Vânia Borges de Carvalho, única sobrevivente de um acidente que vitimou seu marido e os quatro filhos)

               

                 Assim como as minhas lembranças trazem meu filho para mim. Por isso não fujo das recordações, das pessoas, das músicas, dos aromas e dos lugares. E agradeço por ter essas preciosidades comigo, eternamente.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

O trabalho


                Estranha essa sensação de pensar em parar de trabalhar. Depois de uma rotina de 27 anos no mesmo lugar . Sem despedidas. Em teletrabalho. No meio de uma pandemia que já dura quase um ano e meio sem vermos as pessoas que estávamos habituados a conviver.

               No entanto, apesar de tantos percalços o trabalho me salvou. Fiquei uma semana fora, após o falecimento do João. O tempo que o Mário ficou.  Questionaram-me o porquê do retorno precoce. Achei que não deveria continuar em casa, com a Amanda indo para a escola  e tentando fazer a vida continuar. 

                Foi mais difícil voltar do que eu imaginava. Confesso que inicialmente tive vontade de sair correndo. Fiquei pensando no que eu falava antes para as pessoas enlutadas. Sim, eu sei que na melhor das intenções. E talvez sentindo-se na obrigação de falar algo. Hoje eu sei que o melhor  talvez seja: “ só queria te dar um abraço “ como recebi. Tem horas que não tem o que falar...

                 O trabalho não diminuiu minha tristeza, meu luto. No entanto, ele me manteve ocupada. Fazia com que por alguns momentos eu me distraísse com outros pensamentos. 

                  Sou imensamente grata às pessoas que me acolheram. Nos primeiros dias, estava praticamente só de “corpo presente”. Um dos colegas se ofereceu para ajudar nas resoluções dos processos, ou mesmo de “fazer “  parte do meu serviço. Não foi necessário. No entanto, emocionou-me tal empatia. Qualidade tão rara de achar num mundo tão individualista. Jamais esquecerei essa atitude num momento tão delicado.

                   Penso que se manter ocupado é essencial para quem está num processo de luto. Resolve? Não.Mas ajuda.

                   E toda ajuda é boa quando se está tentando viver um dia de cada vez . 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A lua


                 Ontem a lua estava linda, a super lua. Não era como a de Itamaracá, mas mágica. Imponente no alto. 

              No entanto você era sol. Iluminava e aquecia com a sua presença . Sua curiosidade infinita, a multiplicidade de interesses: filmes, músicas,  fotografia, esporte, videogame, geografia entre tantos outros.

               Ótima companhia de viagem, de cinema, de bate papo em sua tão pouca idade.

               Incrível, mas com 9/10 anos gostava de U2. Pouco comum para a idade ( o seu CD continua por aqui) 

               Sempre cercado de amigos. Dos mais variados: dos que gostavam de filmes aos mais esportistas.  A agenda “ de programa com os amigos” era lotada. E de outras atividades também. Sinto falta “ deste agito” , dos seus amigos em casa. 

               Sim, com certeza estaria diferente adolescente. Mas aqui, teríamos o espaço para os seus churrascos/ festas que não ocorreram. Pensar nisso dói, dói sim. O futuro que não chegou...

               Outono quase inverno  por aqui. O pôr do sol mais cedo. Para mim, cedo demais.


Ps : Mãe canta a música da lua: 

“ A lua quando ela roda

É nova, crescente ou meia lua

É cheia, quando ela roda

Minguante ou meia 

Depois é lua nova 

Mente quem diz que a lua é velha”

De novo, mãe ...