domingo, 31 de janeiro de 2021

Último dia de janeiro

            

           Último dia de janeiro novamente. Era o mês das férias. Aquele reservado para ficarmos mais juntinhos. Geralmente íamos para uma praia. Descansarmos, renovar as energias para o ano. Tão bom ficarmos em família grudadinhos. Vocês pequenos, no mesmo quarto. Juntos o tempo todo.

           Praia que você tanto amava. Mar, castelos de areia, baldinhos, pás, guarda sol, toalhas, cadeiras. Difícil era renovar o protetor solar. Parar de brincar? Perda de tempo. 

           Será que tem mar onde você está ? Nos filmes, aparecem jardins floridos, gramados, árvores, rios. Até cachoeiras, mas mar não me lembro de ter visto.

           Às vezes olho para as nuvens e imagino você pulando nelas. Ou simplesmente deitado se aconchegando . Como o Anjinho da Turma da Mônica ( que ideia mais clichê ). Depois penso que tudo isso é uma sandice.

           Quantos pensamentos estranhos passaram na minha cabeça desde que se foi.

           Hoje entrei no seu quarto. Não senti o seu cheiro. Da sua voz lembro perfeitamente. Não consigo ter mais a sensação de te tocar, de sentir como era o tato, a textura da sua pele. Tenho medo de perder essas lembranças. De que você fique mais longe de mim. Fiquei triste de repente....

domingo, 24 de janeiro de 2021

Saudosismo



           Acho que ando saudosista por estes tempos.  Hoje seria aniversário do meu avô. Dia 11 foi aniversário de casamento dos meus pais, data que sempre comemoramos. O Face me trouxe a foto da última comemoração que o João Pedro participou, seis anos atrás.

          Dia quinze seria o aniversário da minha avó. Data em que a família se reunia nos últimos anos de sua vida. Sempre uma festa.

          Revendo fotos antigas, vejo meus tios e meus avós em frente da histórica casa da Treze de Maio.

           A casa era de muitas lembranças da infância. A mesa enorme posta quase o tempo todo. Sempre tinha alguém sentado. E as refeições iam emendando.

          O pé direto super alto. As escadas de madeira, onde todos os netos escorreram pelo corrimão. Chegou a ser tombada pelo patrimônio histórico e depois destombada. Pertinho do Teatro Guaira e do Passeio Público, onde o dithan e os tios costumavam nos levar. Voltávamos com os balões de gás, quando não acontecia a tragédia de escapar, amanhecia no teto da casa.

          Do baleiro ao lado do telefone, dos cigarrinhos de chocolate ( hoje nada politicamente correto) do tio Kiyoshi, das revistas e balas do tio Massaru, das refeições deliciosas preparadas pela Bathan e depois pela tia Keiko.

          Meus tios batizavam carinhosamente de “ família Trapo”.  Muita alegria nas reuniões. Com o tempo, a família foi abraçando os cônjuges dos netos e os bisnetos. Meus avós partiram e 3 tios também. Tempos que não voltam mais.

          Doze anos atrás minha avó partiu. Doze anos atrás foi a última comemoração do seu aniversário. Deixamos de reunir no seu aniversário. Meus filhos chegaram a participar. No último encontro João Pedro tinha 4 para 5 anos. Havia perdido a professora da sala, num acidente durante o ano letivo e estava intrigado com as questões de vida e morte.

         Um dia ele me perguntou: “ sabe aquela sua avó que é bem velhinha, ela vai morrer logo?”. Respondi: “ Filho o natural é as pessoas mais velhas morrerem antes. Mas não sabemos se vai ser assim. Às vezes acontecem acidentes, às vezes as pessoas ficam doentes. Só Deus sabe quando vamos morrer.” Ele quietinho ficou pensando sobre isso...Que ironia, não ?

         Um pouco depois, minha avó partiu com os seus 94 anos de idade. Deprimiu após ter perdido um filho.  E o João Pedro partiu tão precocemente.

         Imagino que esteja em algum lugar fazendo a reunião alegre de família com os que já partiram. E que tenha sido tão acolhido por eles como fizeram sempre por aqui. Saudades disso  tudo...



(Escrito no dia 22 de janeiro... no meio desta pandemia que nos impossibilita ver nossos queridos. E nos traz mais saudades.)


Hoje a casa não existe mais. Atualmente é um estacionamento.  Esta foto foi tirada da última vez que estive no Teatro Guaira. Quis deixar o carro na Treze de Maio, 45.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Talvez


           “ Os meses passarão. A mãe continuará a falar nesse filho. Os comentários serão “ ainda falando nisso?”. Ela terá medo: de não se lembrar do rosto dele, da história que tiveram, de ser desleal ao enterrá-lo definitivamente. Pedirão que deixe de ser mãe, mas isso não será possível. Falará ou lembrará dele até o último dia de sua vida”

            E ainda:

           

“ Talvez, após anos da morte de alguém, diante de um entardecer, a saudade retorne intensa, ela queira ficar só e chorar”.




( texto encontrado na última página do Livro Laços e Lutos, da Teresa Gouvea, que chegou essa semana às minhas mãos).



Talvez por isso gosto tanto de tirar fotos do pôr do sol. Talvez porque “ um por de sol me traduz em versos”. Talvez porque hoje é mais um dia 17. Talvez por isso falo dele mais uma vez. Talvez por isso a saudade retorna intensa. Talvez por isso tenho vontade de chorar.