sábado, 27 de fevereiro de 2021

O filho que eu quero ter

 

O Filho Que Eu Quero Ter

Toquinho


É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem

De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter

(Antes de engravidarmos, imaginamos como seria o nosso filho. Você foi o filho que queríamos ter e tivemos e temos. No entanto,  a ordem natural foi invertida e a vida o levou antes de nós ).

Um amigo, saudoso dos filhos, fez com que eu  me recordasse dessa  música linda. Emocionei-me novamente ao ouvir. 

28 de fevereiro de 2021

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Ausência


Neste dia 17, uma poesia....


Ausência 


(Carlos Drummond de Andrade – 1902-1987)


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus

[braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim. 




ANDRADE, Carlos Drummond de. (In: “O Corpo”. Editora Record, São Paulo, Brasil, 2004)



sábado, 13 de fevereiro de 2021

18 anos

                   Queria estar desejando tanto a você ... que todos os seus sonhos se realizassem, que como dizia Drummond, tivesse grandes desejos que o fizessem mover rumo à felicidade, que Deus sempre o abençoasse.

                   Mas você não está aqui.

                   Agradeço o privilégio de ter convivido estes 12 e intensos anos, de ter aprendido tanto, de ter sido e ser sua mãe . 

                   No entanto, nessa data em especial, não tem como não sentir o coração apertado. Por tudo que vivemos e não temos mais, pelas lembranças ( que são apenas recordações) e vivências que não existirão .

                  Domingo, dia perfeito para comemorar num churrasco com os amigos e familiares ( se não estivéssemos numa pandemia). Resta a imaginação do que seria, como estaria.

                 Um dia iremos comemorar o reencontro. E os abraços serão apertados e  as lágrimas de alegria. E a eternidade será pequena para “matar” tanta saudade.

                 E hoje, 18 anos após a sua chegada, desejo o que as mães desejam sempre aos seus filhos:  que esteja feliz.  Aonde estiver. Por enquanto, sinta-se abraçado. Amado, sabe que é .

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Sobre cicatrizes

Do Livro Laços & Lutos, de Teresa Gouveia


            Quando engravidamos temos expectativas. Primeiro que venha com saúde. Esperamos com ansiedade as primeiras palavras, os primeiros passos, a primeira leitura, os primeiros textos.  Os primeiros amigos, os primeiros passeios , as primeiras viagens sem nós.

              Temos um pacto silencioso : de ver os filhos crescerem, compartilhar os seus amores e experiências, de tomarem aos poucos conta de suas vidas e quem sabe, mais tarde de nós. 

              Somarem às nossas vidas os amigos, os parceiros e talvez os netos.

              Pacto quebrado abruptamente.

              Não verei os amores, os parceiros e os netos vindo dele.

              Tenho apenas as lembranças. São muitas e lindas.  Mas e o futuro? Não chegou e não chegará .