Uma homenagem às pessoas que passam pela dor do luto.
Sobre chegadas e partidas
Viver pressupõe criarmos vínculos como também nos depararmos com as experiências de perdas inerentes a eles – a morte. Ela é uma experiência inevitável que faz parte do jogo da vida nos deixando vulneráveis diante do mundo, pois muda todo nosso ambiente. Logo, estamos diante da dor da perda - a dor avassaladora a qual chamamos de luto.
Esse fenômeno, para além de ser um tsunami que passa em nossas vidas é também um processo único, singular, solitário e idiossincrático, uma vez que ao perder nosso ente de amor, vivenciaremos o luto de acordo com nossa história pessoal de amor e perdas e da nossa história de vínculo com aquele que perdemos.
O luto nos transforma? Inegavelmente, sim! É uma experiência viva, pois entraremos em contato com as contingências da perda e toda gama de sentimentos e emoções geradas por ela, o que traz em nós uma transformação ampla e profunda. Não somos mais quem éramos a partir disso –esta é a verdade!
Há de se considerar que no enlutar-se há uma função importante: levar-nos à adaptação de uma nova vida na ausência do nosso ente querido. Significa aceitar a realidade da morte enquanto estamos no presente e na permanência do luto e, ao mesmo tempo, mudar o relacionamento com aquele que partiu. O vínculo não morrerá jamais e a existência dele de forma contínua nos dará de presente uma conexão duradoura com nosso ente de amor gerando senso de autonomia e competência na nossa relação com a vida e olhares em propósitos e significados, alegria e satisfação.
Em suma, ficarão para sempre as histórias vividas que contam quem era nosso ente de amor e quem até então fomos no sentido das construções edificadas; o legado e os valores também tomarão lugares de honra. E mais, nossa trajetória continuará de mãos dadas; agora, com as lembranças, a saudade, a vivência dos valores e a clareza escancarada de que não há um fim para nosso luto – ele ficará integrado em nossas vidas.
Texto escrito pela psicóloga Nione Torres