domingo, 27 de março de 2022

Faltando um pedaço

             


                Pela primeira vez , desde que me tornei mãe, passei meu aniversário sem a presença dos meus filhos.

               Sensação estranha . 

               Muitas vezes escrevi sobre datas comemorativas e como elas mudam após a partida de nossos amados. Com o “ amor e a agonia brigando horas a fio” e “ o coração de quem ama faltando um pedaço “ , como já dizia Djavan.

               No entanto inteiros ou faltando um pedaço, o tempo não para. A vida segue e as comemorações se repetem . Novos aniversários, dia das mães , dia dos pais, Natal, ano novo, etc..Acrescida da celebração que não  gostaríamos de passar: o dia da morte, ou da passagem de quem se foi . Dia de honrar a memória de nossos amados, da gratidão de termos tido eles em nossas vidas e de muita saudade. Ainda que silenciosamente.

                Conversando com um amigo, ele me disse: você me parece triste.  Fui cercada de tanto carinho e mimos, inúmeras msgs de amigos, ligações, flores, presentes e abraços possíveis ( e mesmo virtualmente eu me senti abraçada). Imensamente grata a todos. Por que certa melancolia  me acompanha?

               Nessas datas, inevitáveis as lembranças de outros tempos. Memórias felizes. Quando ainda “ não faltava um pedaço “. 

quarta-feira, 16 de março de 2022

Dias difíceis

             



                A saudade às vezes é quase insuportável. Tem dias que são mais difíceis. Aprendi que esta ausência será sempre presente em minha vida. Que convivemos com ela. 

              Não se trata de superar, porque não há o que ser superado. Nem sei se aprender a conviver seria o correto. Talvez, assimilar a ausência. Porque aprendizado, penso que pressupõe aceitação . Pela fé, sim. Pelos fatos ? Não sei. Penso que respostas plenas apenas em outra dimensão.

               Divagações… levam a algum lugar? Não sei.  Ajudam a organizar as ideias. Depois, seguimos em frente. Um dia de cada vez. Ainda que anos se passem.


( escrito às 6 h da manhã. Se sonhei, não me lembro)


Para Marcela, que não conheço pessoalmente, mas me sinto próxima. Já havia escrito este texto quando escrevi no seu post.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Padrinho




               Ontem,  aniversário do nosso afilhado. Alguns dias atrás, do padrinho do João Pedro. Ele ligaria para o padrinho, como sempre fazia . Nessas datas comemorativas e quando o Corinthians ganhava do Palmeiras, ou o Palmeiras levava alguma goleada. Era uma forma de proximidade deles. 

               Quando bebê, ainda sem time, o padrinho quis dar uma roupinha do Palmeiras, impedido pela madrinha corintiana. Cresceu um pouco, talvez por influência dos tios e primos, tornou-se corintiano. Bem na época que o Ronaldo foi lá jogar e o Corinthians estava na mídia direto. 

               Sempre disse que poderia “ brincar” com os outros sobre comentários futebolísticos, mas que deveria aceitar o inverso  também.

             No entanto, o humor dele, ainda pequeno,  era refinado e próprio . Ao invés de ligar rindo por causa da derrota, perguntava sutilmente para o padrinho: o que é que está acontecendo com o seu time. Ou ainda : você viu o jogo ? Claro que a resposta era negativa.

               Quando o Palmeiras ganhava o clássico ou o Corinthians perdia feio, ele já sabia: “ ih o tio vai ligar”.

               Quando o Corinthians ganhou o mundial, pegou correndo o telefone para ligar para o tio/padrinho. Esse respondeu como se fosse de um hospital ( o que o João estranhou). Não teve dúvida: pegou outro telefone, de um número que o padrinho não conhecia,  e este não teve como fugir. Teve que aguentar a zoação. 

               Penso que toda vez que tem um clássico, deve lembrar dele. E quando o Palmeiras jogou o mundial .

               No seu aniversário  ele teria parabenizado e talvez, ironicamente provocado: que venha um mundial do Palmeiras de presente. 

               Para o Palmeiras,  não torceria jamais. Para o padrinho, sempre. Vocês foram os melhores padrinhos.