sexta-feira, 28 de maio de 2021

A lua


                 Ontem a lua estava linda, a super lua. Não era como a de Itamaracá, mas mágica. Imponente no alto. 

              No entanto você era sol. Iluminava e aquecia com a sua presença . Sua curiosidade infinita, a multiplicidade de interesses: filmes, músicas,  fotografia, esporte, videogame, geografia entre tantos outros.

               Ótima companhia de viagem, de cinema, de bate papo em sua tão pouca idade.

               Incrível, mas com 9/10 anos gostava de U2. Pouco comum para a idade ( o seu CD continua por aqui) 

               Sempre cercado de amigos. Dos mais variados: dos que gostavam de filmes aos mais esportistas.  A agenda “ de programa com os amigos” era lotada. E de outras atividades também. Sinto falta “ deste agito” , dos seus amigos em casa. 

               Sim, com certeza estaria diferente adolescente. Mas aqui, teríamos o espaço para os seus churrascos/ festas que não ocorreram. Pensar nisso dói, dói sim. O futuro que não chegou...

               Outono quase inverno  por aqui. O pôr do sol mais cedo. Para mim, cedo demais.


Ps : Mãe canta a música da lua: 

“ A lua quando ela roda

É nova, crescente ou meia lua

É cheia, quando ela roda

Minguante ou meia 

Depois é lua nova 

Mente quem diz que a lua é velha”

De novo, mãe ...

domingo, 16 de maio de 2021

Onde encontro meu filho

 


           Encontro nos textos que escrevo para ele, para mim e para quem passou e passa por uma dor assim.

           Encontro nas músicas que escuto e que canto que antes tinham um significado e passaram a ter outro.

           Encontro no pôr do sol que amo tanto fotografar.

           Encontro durante as minhas orações e meditações.

           Encontro nas suas fotos, em algumas camisas de futebol guardadas e no seu quarto que não tem mais seu cheiro.

           Encontro nos almoços na casa da Bathan, no canto do sofá que ficava, no seu lugar na mesa da cozinha, agora desocupado.

           Encontro nos caminhos que fazíamos juntos e que não são mais os mesmos.

           Encontro nos sonhos que são raros, mas que me trazem você de volta .

           Encontro nas comidas que gostava, nos desenhos que guardei , nos presentes e cartões que fez para mim ( verdadeiros tesouros).

          Encontro nas caminhadas , quando sigo pensando na vida.

          Encontro na chuva que traz o seu último aniversário por aqui.

          Encontro nas divagações : como estaria, que altura teria, qual vestibular estaria prestando , os amigos que continuariam em sua vida.

          Encontro nas  lembranças, que são memórias amadas e por isso eternas.

          Encontro em todo lugar, ou melhor não encontro, porque você já está em mim. Para sempre.


( Para o dia das mães,  Teresa Gouvea pediu para que gravasse uma mensagem para ser publicada no Laços e Lutos ( na página do Instagram ), com o tema “ onde encontro meu filho”. Muito honrada em participar. O vídeo ficou lindo com vários depoimentos. Emocionante).



Escrito em 08/05/2021





sábado, 8 de maio de 2021

Dia das mães 2021

          


             Sou mãe, mas também sou filha. Como filha, tenho a graça de ter a companhia dos meus pais idosos por aqui

           Como mãe ....falta a “metade afastada de mim”. Sempre presente e ausente ao mesmo tempo.

           Talvez por isso, essa ausência presente  ou essa presença ausente dói demais.

            A sensação de incompletude, de “faltando um pedaço “ será sempre companheira.  Especialmente em momentos como estes.

            No entanto, sou grata por ter você em minha vida. Você e sua irmã são a melhor parte de mim. Meu coração fora de mim.

            Se me perguntassem onde gostaria de estar, responderia: em algum lugar do passado, tomando chazinho, comendo bolachinhas, bolos e sanduíches preparados e servidos por pequenas mãozinhas. E ganhando os presentes feitos : sachê com o carimbo dos dedinhos, bolsas pintadas a mão, vasos de temperos, porta-guardanapos,  pratos de mosaicos entre outros verdadeiros tesouros.

            Amo ser  a mãe eterna de vocês.



PS:  Sexta-feira que antecedia o dia das mães era o dia das homenagens na escola ( João Pedro estudou dos 3 aos 12 anos na mesma escola e a Amanda até o nono ano). Os lanches eram preparados e servidos por eles, desde a pré-escola até os do nono ano. Bem como os nossos presentes.

sábado, 1 de maio de 2021

Permissão para os lutos necessários da vida


              A sabedoria popular nos brindou com uma expressão cada vez mais desvalorizada e ignorada pela maioria das pessoas. O “tempo é o melhor remédio” não é algo que se aplica às pessoas mais impulsivas e àvidas pelo prazer contínuo. Cada vez mais, em nossa sociedade, os espaços para se viver o luto de algumas perdas estão se tornando escassos e rápidos demais. É bem provável que muitos de nós se ocupe demasiadamente para não pensar que o dia acaba e que todo processo humano tem início, meio e fim, conforme ressalta Ivan Capelatto (2014). Não há mais tempo a perder, se vangloriam muitos que acreditam que a tristeza, a dor, o sofrimento pelas decepções, frustrações, para as perdas de qualquer tipo, não unicamente, a morte, devam ser interrompidas, anestesiadas, evitadas. Algumas expressões corriqueiras adotadas por muitos de nós expressam nossa incapacidade para “suportar” a angústia que caracteriza toda vida humana, que nos dá o direito a alguns ganhos, mas também, às perdas. “Não fique assim, isso logo passa;” “para de chorar”; “deixa de frescura”. Estas expressões denotam a insensibilidade que muitos, por não conseguirem vivenciar com maturidade alguns pesares próprios da vida, se defendem para não vivenciar os sentimentos de tristeza e vazio que podem assolar qualquer ser humano lúcido e não apenas aqueles que porventura, desenvolvem um quadro depressivo importante.  

            Mesmo uma situação simplesmente banal ou sem importância aos olhos dos mais desavisados, pode ser entendida como perda, como por exemplo, os aniversários, a troca de escola, a mudança de casa, de cidade, de emprego, o final do ano que se aproxima. Todos estes eventos da vida cotidiana, inevitavelmente, nos colocam diante de perdas, mesmo que possam estar revestidas de ganhos, de conquistas e de presentes. Os eventos de nossas vidas marcados com rituais de passagem, de despedida evidenciam justamente o fim de uma etapa e início de outra. Geralmente, se valoriza apenas a segunda, ignorando o fato de que qualquer situação envolve esta aparente contradição entre ganhos e perdas. Nenhum ser humano está livre desta condição.

            Tenho insistido muito sobre esta questão, na tentativa de ajudar muitos a reconhecer nossas fragilidades, para então, perceber o potencial para viver de uma forma mais madura e consciente. Que possamos permitir que o outro chore, se for preciso, sofra, se for preciso e que tenha a coragem para viver a delícia e a dor de uma vida, pelo menos, interessante.

A mente cura - Rogério Thadeu

Referências:


Capelatto, I. A vida humana – perdas e consequências. Londrina, Editora Universitário, 2014


Thaddeu, R. No limite das emoções. Londrina, Amplexo, 2005.


(Reproduzo este texto que muito gostei)