quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Esperança

          

         

          Eu não vi a estrela de Belém ( prefiro chamar assim do que conjunção de planetas ) no dia do aniversário da sua irmã . Estava muito nublado por aqui.

          Eu não vi a sua cura e nem o meu milagre acontecer.

          A minha quarentena vivi antes: do hospital para casa, da casa para o hospital.

          Não imaginava ir ao cemitério na véspera do Natal, nem do Ano Novo.

          No entanto, ainda tenho esperanças. 

          Esperança de um ano novo melhor. Esperança do fim da pandemia e tantas mortes anunciadas. Esperança que a dor se vá e fique apenas as boas lembranças ( embora saiba que nunca será somente assim). Esperança que fique apenas a gratidão do convívio e a saudade do amor que fica. Esperança do nosso reencontro.

          Se a vida  mudou completamente com a sua partida,  maior seria o infortúnio se perdesse  a esperança e a fé. 

           Não creio que o tempo seja medido por anos aonde está. Porém, aqui sim.  Então que venha 2021. Com saudades sempre, mas prosseguindo com esperança , fé  e o amor que me acompanha, para todo e sempre.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Feliz Natal


       


         Datas comemorativas são difíceis. Trazem lembranças de tempos passados mais felizes. Onde tínhamos a presença dos nossos amados que se foram. 

          Família reunida parece tornar a ausência mais evidente.

          Estava totalmente desanimada  para montar a árvore de Natal. Em tempos de pandemia então... E ainda com duas cachorrinhas filhotes espevitadas, imaginei a árvore abaixo com os enfeites no chão.

          Resolvi colocar a guirlanda na porta. Tirei o presépio. E pendurei os enfeites no bambu da sala. E me emocionei.

        Apesar de tantas lembranças boas (por isso doloridas) de tempos que não voltam mais, apesar do ano difícil pela pandemia, apesar de tantas perdas e lutos,  o Natal traz a esperança.  

          A vinda de um menino Deus que traz esperança para a humanidade. A esperança de um ano vindouro sem pandemia. A esperança de que este tenha sido um tempo de reflexão . 

          A esperança de que um dia iremos nos reencontrar e que nesse dia, essa saudade  que dilacera o coração termine.

          Feliz Natal, meu amor.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Irmãos


            Hoje  é aniversário da sua irmã . Fico imaginando como seria a relação com sua irmã nos dias atuais.

           Vocês foram tão companheiros na infância. Ela sempre cuidando de você. E você preferindo sempre a companhia dela. Tinham um mundo particular.  Das cabaninhas na sala, dos teatrinhos e apresentações montadas, das músicas cantadas no trajeto da escola, das brincadeiras compartilhadas. 

            Depois veio a fase das brigas. Dois filhos,um lugar em cada janela no carro: disputavam o lugar do meio. Vontade de parar o carro e mandar todo mundo descer ( ainda bem que a vontade passa). E assim por diante.

             O Mário pacientemente dizia que os irmãos que não resolviam as diferenças na infância, acabavam se distanciando depois . 

              E a Amanda num raro rompante : “ João Pedro eu só brigo com você “. Quem diria que essas brigas fariam tanta falta. E tão cedo.

               Dividiram o quarto no começo, os chocolates, os brinquedos, as atenções.

               Tem fatos e vivências que só irmãos partilham . Os primeiros amigos.

               Sinto que  não esteja   ao  lado dela para compartilhar a vida adulta. Mas, como ela fazia  com você  pequenino, de onde estiver, estará olhando por ela.  E a acompanhando, ainda que silenciosamente.

               E desejando um feliz aniversário.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Dia 17




 Não somos os mesmos sem você por aqui. Nem os dias 17 são os mesmos. Nem dia algum. A vida também não é a mesma. No entanto, o amor é o mesmo. Talvez até maior. Pois amar na saudade é um aprendizado. Difícil e duro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Apesar de

        


            Sou um poço de contradições. Descobri que a saudade que sinto nunca chega ao fim e que assim será até o fim dos meus dias por aqui , mesmo grata por esses doze anos e meio lindos compartilhados.

           Ainda que você faça parte de mim, muitas vezes eu me pergunto aonde você está que não aqui.

            Passaram cinco  anos que você se foi. Cinco natais  sem você para me ajudar a montar nossa árvore. Parece tanto tempo, parece impossível. Ao mesmo tempo as lembranças são tão vívidas que parece que foi ontem.

           Às vezes não tenho vontade de fazer absolutamente nada. Outras tenho tantas atividades, quase para tentar esquecer a dor e não ter tempo para pensar.

          Tem dias que sinto a gratidão que devo a Deus por ter uma família, a presença ainda dos meus pais idosos, um marido companheiro e uma filha incrível. Em outros a falta que sinto de você é tão grande que nada me consola.

           Um texto que li a pouco,  da genial Clarice Lispector :


❝ Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. “

             Então mesmo nessa gangorra emocional, mesmo nesse redemoinho de sentimentos, apesar de vamos vivendo.

             Apesar de vamos ressignificando a vida.

             Apesar de um dia nos reencontraremos.

             Apesar de o sol nascerá, como disse Cartola. 



( Escrito em um dia de chuva)

sábado, 28 de novembro de 2020

D. Rosa

      

                  D. Rosa sou muito grata por ter me acolhido no período mais difícil da minha vida.

                 Como ninguém , sabia a dor que eu sentia. Não somente imaginava, como outras pessoas. Sabia como era dura e solitária essa dor única . E através de sua atenção  e generosidade me dava “um pouco de colo” . Um plantinha trazida da viagem ( ela ama as plantas), uma toalha bordada por ela ( faz lindos artesanatos), um bolinho de Reis ( delicioso ), das rezas com os nomes trocados, lindas  mensagens e orações . Obrigada por tudo.

                  E agora D. Rosa faz 80 anos.... Que fortaleza, que fé , que coragem de enfrentar a vida de frente apesar de tantas adversidades. A senhora me inspira.  

                 Peço a Deus que possa usufruir essa nova etapa com leveza e sempre cercada do amor  e carinho dos seus familiares e de seus amigos. Que seja um período abençoado.

                Como diz Cora Coralina:

“ Muitas vezes basta ser: 

Colo que acolhe

Braço que envolve

Palavra que conforta

Silêncio que respeita...

E isso não é coisa de outro mundo

É o que dá sentido à vida”


              E a senhora é tudo isso. Feliz aniversário, D. Rosa! Amamos a Sra.


( Hoje é o aniversário de D. Rosa que teve tantos lutos em sua vida e continua firme na luta. D.Rosa perdeu o marido, o genro, a filha e o filho /neto. Quando a filha faleceu, já aposentada, foi cuidar dos 4 netos ainda crianças. E aí nossos caminhos começaram a se cruzar. Nada é por acaso. E ganhei uma amiga maravilhosa, que com sua generosidade, soube me acolher nos momentos mais difíceis de minha vida)


28/11/2020

sábado, 14 de novembro de 2020

Aos que pertenço



       



          Dois fatos me impactaram no dia de hoje. A morte de um menino de 18 anos, após lutar por dois anos com um câncer . E a irmã de uma amiga, com depressão profundan depois de perder o filho de Covid.

           Após a morte do João Pedro tinha uma convicção do que não queria, embora não dependesse exclusivamente de mim. Não queria me separar, não queria adoecer e nem me tornar uma pessoa amarga.

            Estatisticamente é comprovado que aumentam as separações pós morte de um filho. Claro, duas pessoas que não estão bem não podem estar bem num relacionamento. E o processo de luto é único para cada um, havendo muitas vezes um descompasso nas fases vividas e na maneira de se encarar o luto. Alguns querem simplesmente “fugir” de tudo, outros encaram de frente. Além da tristeza que paira no ar, numa sociedade hedonista como a nossa.

             Adoecer e até morrer, após uma perda assim, é um processo que se repete. Drummond não conseguiu superar a perda de sua filha Julieta e seis meses depois partiu. Minha avó , com seus 93 anos perdeu um filho. Deprimiu e partiu pouco tempo depois. Meu avô era forte e saudável, foi definhando e morreu um ano e meio após a morte da minha avó.  Os pais de uma grande amiga/irmã partiram 6 meses de diferença um do outro. Os exemplos são inúmeros. Dizem que se geneticamente tivermos programada alguma doença, comum aparecer nesses momentos. Além da imunidade que naturalmente cai por stress.

                Não me tornar uma pessoa amarga, isso sim dependia muito mais de mim. As pessoas se afastam . Torna-se intolerável até mesmo para os mais próximos. E eu sei que preciso de relacionamentos. De conversas e risadas. De abraços fraternos. Do olho no olho que faz tanta falta nessa pandemia.

                 Clarice Lispector escreveu: “ A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver”. 

                  Por isso sigo em frente, para aos que pertenço.

( Escrito em 25/10/2020)

Sempre presente

         


            Daqui a dois dias é o aniversário do seu pai. Ele sempre gostou de aniversários, mas depois que você partiu nunca mais quis comemorar. Nos últimos anos, estávamos acompanhando a Amanda no vestibular nesta data . Desta vez será eleições.

              Penso que como pais questionamos: porque estamos aqui e o meu filho muito mais jovem não. Tanto eu como seu pai tentamos “ negociar” com Deus:  pode nos levar no lugar do meu filho tão novo.  Mas nada disso surtiu efeito. Deus tem as razões que desconhecemos .

              As datas comemorativas são complicadas.  Sempre teremos lembranças, fotos  de tempos passados, com a presença dos nossos queridos. E nessas ocasiões parece que as ausências são mais evidentes. 

          

               Como Manuel Bandeira escreveu: “ Tem mais presença em mim o que me falta”. 

              

               Você , sempre presente .


( escrito em 13/11/2020)

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Não há despedida possível

 

                    



                  Hoje, dia de finados.  Lembrei do que Teresa  Gouvea, em seu site Laços  e lutos,  escreveu como introdução de dois textos meus publicados. Fiquei emocionada ao ler. 

                  Para uma mãe não há despedida possível. Despedimos do corpo, mas eles vivem para sempre em nós. Eles não findam jamais . 

                   Segue a reprodução do texto:


“Meu filho, cantarei sempre para você dormir, minha eternidade

                  Não há despedida possível para um bebê que chutou a barriga e segurou nas suas mãos para andar, não há despedida para as cantigas de ninar ou para a torcida no jogo de futebol, esse amor acompanhará todas as coisas que João Pedro amava –  o sol, o mar, a areia, os filmes e as músicas – viverá, eternamente, o corpo se despedirá, mas o amor é infinito, todas essas delicadezas farão moradia, eternamente, no coração de uma mãe…

(Autoria: Denise, mãe eterna do João Pedro )

 Cantiga de ninar que alcança o céu “





domingo, 25 de outubro de 2020

Da minha própria história

             Acabei de ler o livro Histórias lindas de morrer. No final do livro, a autora conta a sua própria experiência como filha de paciente. Desabafa sobre uma médica prepotente, sobre o inconformismo e a raiva do atendimento destinado ao pai. 

              Lembrei da minha própria história. Dois médicos, mesma situação. 

              Um deles alertou sobre a gravidade da situação do meu filho, sem esconder o que estava acontecendo, mas delicadamente.

              O outro, conversou comigo num banco do corredor e disse: “ o João Pedro que você conheceu não existe mais. Você deve pensar o que é melhor para ele”.  Eu , mãe , em choque, chorando e largada sozinha no banco do corredor. Ele disse o que disse, levantou e saiu . Simplesmente assim. Tentativa de consolo ( ainda que pudesse não haver), nenhuma. Empatia ? Zero. Pode ser um ótimo técnico,  ser humano ? Não sei. Não vi essa face.

            Não sei se era pai. Mas devia saber, que quando se trata de filhos estamos lidando com a “parte mais sensível “ dos pais. Para quem não passa por uma experiência de morte de um filho, tudo isso é inimaginável. 

            Uma grande e querida amiga um dia me disse: “ imagino o que você está passando “. Eu prontamente respondi, você não imagina. Só quem passa, sabe. E ela empaticamente falou: “ você tem razão, eu não imagino”. Disse outro dia, que esse diálogo foi marcante. Que a fez refletir que realmente não tinha como saber.

           Cada história é única . Cada relação é única. Cada dor é única. Cada amor é único.

            Como diz no livro: “ ela é um lugar que será sempre dela”- Zack Magiezi. Sim , você João Pedro, tem um lugar que sempre será seu. Você é um lugar seu. Para sempre.



* Histórias lindas de morrer - livro da médica geriatra e profissional de cuidados paliativos, Ana Cláudia Quintana Arantes.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

O parquinho

         “Hoje eu acordei com saudades de você” ... não foi na praça que começou o nosso amor. Com certeza foi bem antes de você vir a este mundo. Dizem que escolhemos os nossos pais . Será que tive a honra de ser escolhida por você ? Que ainda por breve e marcante tempo  ter sido escolhida para compartilhar das suas vivências?

           “ Senti que os passarinhos todos me reconheceram e eles entenderam toda minha solidão “. Muitos lugares me trazem recordações. Da primeira infância ou mais recentes. Você era tão apegado a mim quando pequeno. Como se soubesse que ficaria por pouco tempo ( sim, são divagações minhas). Depois cresceu. O pai era o seu herói. No entanto , na sua despedida, que eu não sabia ser a sua despedida, queria que eu ficasse sempre ao seu lado. Como se voltasse a ser aquele menino pequeno .            

             “A mesma praça o mesmo banco
              As mesmas flores o mesmo jardim
              Tudo é igual mas estou triste
              Por que não tenho você perto de mim“
              Não seria a mesma praça, mas o mesmo parquinho. Aquele que serviu de cenário para as suas brincadeiras  e da sua irmã pequenos. Caminhando, passei em frente. Impossível não voltar ao tempo, embora modificações  tenham sido feitas. Mas mesmo que não houvessem, não olharia da mesma maneira. Até a maneira de  ver o tempo e o espaço mudou. Tudo se modificou. Depois da sua partida , impossível ser quem eu era. 
             

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Saudade, saudade, saudade


 Quantas saudades meu querido! Se “saudade é o amor que fica” , a saudade e o amor são imensos. Especialmente num dia 17 .

domingo, 11 de outubro de 2020

Feliz dia das crianças aos meus filhos

          Meu filho ficou na infância. O dia das crianças sempre será o seu dia. Todas as lembranças são da infância e não da adolescência que começava a despontar.

           Por isso essas datas nos fragilizam mais. Ainda que para os pais os filhos são sempre crianças,  o fato do João Pedro ter partido tão cedo acentua esse fato.

            Aqui o tempo passou, para ele não. Seus amigos estão  escolhendo o curso para prestarem vestibular. E agora começa a sequência dos aniversários de 18 anos. Parece inacreditável, aquelas crianças que conheci desde a pré-escola, com 18 anos. Daqui a pouco motoristas. E mais um pouco, “dirigindo “ as próprias vidas.

             Você ficou em 2015. As lembranças dos momentos que amávamos são desta data ou anteriores:  as cabaninhas na mesa da sala, as apresentações de teatro com a direção da Amanda, escorregar de papelão pelas encostas, juntar os amigos para sair pedindo doces ( Haloween), voltar da escola  ouvindo as músicas aprendidas ( das cirandas ao hino nacional),  irmos às incontáveis apresentações infantis do  *Filo (com pão de queijo a ser degustado na fila), e tantos outros.

             Hoje passei por um caminho que costumava fazer diariamente para levá-los à escola. O caminho mudou totalmente . Hoje tem uma rotatória  e outras ruas que foram abertas. Deu muita saudade. O caminho que era diário abruptamente sumiu de nossas vidas. Assim como o caminho do futebol e da casa dos seus amigos... Distraidamente perdi o rumo e lágrimas começaram a escorrer.         

             Não consegui encomendar, mas descobri que o pastel que levávamos  pós futebol da escola, agora está perto de casa. A padaria antiga fechou e reabriu aqui perto. Vocês adoravam e virava “ quase” uma festa. Nós mães,  até arriscamos a dar uns chutes. E eu que nunca joguei futebol estava lá no meio do jogo. 

               Meu filho partiu ainda criança.  Como diz sabiamente Adélia Prado, “ o que a memória ama permanece eterno”. Por isso para os pais, os filhos são sempre crianças .  As lembranças dos barulhos da  infância, das risadas, das brigas , das brincadeiras ficaram eternizadas na minha memória. Por isso, tanto João Pedro como Amanda, serão sempre crianças no meu coração. Para sempre.


*FILO - Festival Internacional de Teatro de Londrina 


Escrito na Semana do dia das crianças de 2020

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

“ Escrever é como girar a faca na ferida”

“ Escrever é como girar a faca na ferida”  Elena Ferrante

           Por que escrevo então ?

           Escrevo para mim, porque é terapêutico. Porque posso expressar os sentimentos guardados. Porque me ajuda a organizar as ideias e prosseguir. Porque seria insuportável para mim e principalmente para os outros,  falar muito sobre o luto. Morte ainda é tabu. Luto é sofrimento. Numa sociedade que exalta o prazer é quase “assunto proibido”. Constrange.

           Escrevo para o João Pedro. É quase como trazê-lo novamente ao nosso convívio. Para os que conheceram, recordar. Para os que não tiveram a oportunidade de estar com ele, saber da existência curta e linda deste ser iluminado. E de alguma maneira, quando declaro a saudade e o amor que sinto, imagino que essa mensagem chegue até ele.

          Escrevo para quem teve uma experiência de luto intensa,  como a de perder um filho. Comecei o blog, para reunir as publicações que fazia nos dias 17, em um único lugar. No começo, postava apenas textos, de outras pessoas, com que me identificava. Na missa de um ano  de falecimento do João Pedro,  escrevi e tive a coragem de ler uma carta  para ele.  Compartilhei o que escrevia, com algumas pessoas. Quando uma amiga, que havia perdido familiares, contou que os  textos haviam ajudado no seu processo de luto, resolvi publicar ( ainda que encabulada pelos amigos jornalistas e professores de português).

          Por isso, sem qualquer pretensão literária  ( nem ousaria) , “giro a faca na ferida”. Talvez para tirar um resíduo do que ficou. E assim, seguir adiante. 



sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Mistério de Deus


 “ Enterrar uma criança de doze anos atenta contra toda a lógica. É a penumbra do Mistério de Deus”.

( postado no dia do enterro do João Pedro. Li muito tempo depois.)

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Saudades infinitas


             Dói, a dor chega a ser física de tanto que dói.

             Hoje eu chorei, chorei de tanta saudade que eu sinto de você.  Chorei muito. Impossível não sentir dor, sou mãe.

             Penso que é como uma cicatriz de um corte profundo. Não está em carne viva mais, mas está lá. Lembrando do que foi, da dor que vivenciou.

             Acho que é como marca de uma tortura que traz as lembranças da dor física e emocional. Sim, tortura de ver seu filho em menos de um mês, vinte e cinco dias, passar de uma criança saudável a um “corpo “. Quanta tristeza inserida nessa palavra, tão impessoal.

             Gratidão? Tenho. Pelo tempo lindo que passou conosco.

             Mas hoje é dia de chorar de saudades.

             Como bem escreveu o poeta:

            “ Que a saudade é o revés de um parto

               A saudade é arrumar o quarto

               Do filho que já morreu” 


               Ou ainda:

            “ Que a saudade é o pior castigo

               E eu não quero levar comigo

               A mortalha do amor 

               Adeus”.


               Saudades, saudades, saudades...

               Saudades todo dia, saudades infinitas até o dia do nosso reencontro.

           

( escrito em uma madrugada insone de setembro de 2020)

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Cinco anos ( carta) ou cinco minutos

            Cinco anos atrás eu tinha você aqui em casa. Lindo, saudável, inteligente. Como o destino nos prega peças, tudo mudou pouco depois. Cinco anos atrás foram os seus últimos momentos nessa casa. Brincando com a Meg, jogando videogame, fazendo tarefas, chutando bola. Cinco anos... não dá para acreditar. Tanto tempo e ao mesmo tempo tão próximo. Acho que vai ser sempre assim, independente de quanto tempo passe. Cada lembrança sua é muito vívida. A voz, o cheiro, o toque... Tinha tanto medo que se perdesse. 

              Estamos com duas cachorrinhas, por enquanto hóspedes. A branquinha e a pretinha. Você teria adorado brincar com elas. São duas filhotinhas arteiras. Tio Paulo achou no meio do nada e pediu para ficar aqui provisoriamente. Lembro do quanto brincava com a Meg . E como  ficava bravo quando a Meg protegia a Amanda, dizia que queria um cachorrinho só pra você. No entanto não esqueceu da Meg, nem no hospital. Falava da falta que sentia dela.

              Que bom que tiveram a Meg para partilhar a infância. Hoje ela já está velhinha. Não corre, nem salta tanto como antes. Seus passeios são mais curtos, as sonecas maiores e enxerga menos. Ah, se soubesse o quanto ela esperou por você. Ia para a porta nos horários da sua chegada, que não eram mais seus.

             Como os fins de tarde foram difíceis para todos nós . Seu pai ficou perdido sem ter que levar você no futebol, no tênis ou no campo. Acho que era a hora mais difícil do dia pra ele. Não ter a sua companhia diária.

             Era uma correria com vocês dois e tantas atividades. Sabia que sentiria falta quando crescessem. Jamais imaginava que seria assim. Teve época em que um estudava de manhã e o outro a tarde. Chegava com um, almoçava e corria pra levar o outro. E final do ano então ... Torneio interno da Arel ( Eurocup), taça cidade de Londrina, ensaios e espetáculos de Ballet da Amanda, apresentação de piano. Era uma maratona que me traz muita saudade e boas recordações.

            Ah, se eu tivesse uma máquina do tempo. Voltar a ver vocês crianças e felizes. Alegres e barulhentos. Criando apresentações dos teatrinhos  ( sob a direção da Amanda) com a trilha sonora da Palavra Cantada,  fazendo  cabaninha com a mesa de jantar e colchões, escorregando de papelão pelas rampas de grama, piqueniques e muito mais.

             Hoje na palestra que ouvi, a pergunta era a seguinte: o que faria se tivesse cinco minutos com a pessoa que você ama e se foi?

              Daria abraços apertados e beijos até você reclamar. Diria o quanto eu o amo e sempre amarei. Independente do tempo e da distância. Será que você me responderia “ mãe você já me falou isso” como me dizia quando eu falava que o amava? Ou ainda “ isso eu já sei”.

               Que bom, filho. Você sabia o quanto era amado. E saiba, sempre será.

                                              Sua eterna mãe 


( escrito em algum dia de agosto de 2020)     

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O amor acaba quando as pessoas morrem?


"- Mãe.

 - Sim.

 - O amor acaba quando as pessoas morrem?

 - Claro que não.

 - Mas o coração deixa de bater e deixa de sentir.

 - Meu filho, quando um relógio para, o tempo deixa de passar?

 - Não.

 - Com o coração é a mesma coisa. Pode parar e deixar de bater, mas o amor que trazia nunca vai passar, porque o deixou ficar por onde passou."


💛 lado.a.lado



Cinco anos atrás recebi a notícia da morte cerebral do meu filho...

Sua voz

             Hoje faz 5 anos que escutei a sua voz pela última vez. Na correria, tendo conseguido vaga num hospital de excelência, com um dos melhores neurocirurgiões do país e cheia de esperança. Você falava que estava com muito sono. E eu conversando com você .

               Às vezes eu me pergunto, como diz aquela música : “ se foi pra desfazer por que é que fez”. Conseguir vaga com o médico recomendado nas circunstâncias que aconteceram, parecia um milagre. Parecia que tudo estava encaminhando bem e que tudo terminaria bem. Eu acreditava nisso.

              Mal sabia.... mesmo com todas as circunstâncias.

              Ah, se eu soubesse... acho que eu queria ter dito mais para você. Que você foi o melhor filho que eu poderia ter tido. Que tenho muito orgulho do que é ( foi). Que você e sua irmã são a melhor parte de mim. Que se você fosse embora, uma parte de mim seria arrancada, deixando um espaço jamais preenchido, porque ele é seu e sempre será.

                Hoje eu sei deste vazio presente. Desta ausência presente. Da sua voz que eu não escuto mais,  chamando “mãe “.


( escrito em 1/9/2020. Tempo de reviver os acontecimentos para poder seguir em frente)

sábado, 12 de setembro de 2020

As criaturas não morrem


                    “Não são as criaturas que morrem.

                    É o inverso:

                    só morrem as coisas.

                    As criaturas não morrem

                    porque a si mesmas se fazem.

                    E quem de si nasce

                    à eternidade se condena.”



                            Mia Couto

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O espaço vazio

           Hoje foi o seu último dia nessa casa,  5 anos atrás . Suas risadas não ecoam mais, seu sorriso maroto, a bola quicando, o barulho do videogame... sons que não existem mais.

            Parece impossível, tanto tempo e ao mesmo tempo tão próximo. Ainda às vezes parece um pesadelo.

             No entanto, o tempo passou. Muitos acontecimentos e mudanças que você não acompanhou ( ao menos presencialmente). 

             Seus amigos, adolescentes e pensando no vestibular. Você foi o amigo de infância. Infância esta que ficou pra trás. Só de pensar nisso, dói. Dói pensar no que poderia ter sido e não foi. Dói pensar no futuro sequestrado abruptamente.

             De um dia para outro, o menino que estava aqui, jogando, brincando, rindo, desapareceu.

              Foi de um hospital a outro e nunca mais voltou. Casa sem brinquedos espalhados, videogame permanente montado, chuteiras e bolas, cults e tarefas do kumon espalhadas.

              E um vazio que nunca será preenchido. Ressignificamos a vida. Por questão de sobrevivência, seguimos. Mas o seu espaço estará sempre aqui. E a sua ausência também. Infelizmente...       


( escrito em 24 de agosto de 2020)

Amar alguém


 Extraído do site Laços e Lutos da Teresa Gouvea 

Publicado em 17/07/2020 no meu Face.

Bem assim...

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Por que as crianças morrem?

“ Algumas flores desabrocham apenas por alguns dias. Todos as admiram e amam por serem um sinal de primavera  e de esperança . Depois, essas flores morrem. Mas já fizeram o que tinha que fazer...”

Elizabeth Kübler-Ross

Resposta da autora para a pergunta acima... Extraído do livro autobiográfico  A roda da vida.

Publicado em 17/08/2020

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Dia das mães de 2020

       Agora aqui sozinha eu posso chorar. Eu sinto muito a sua falta, filho. Meu dia das mães nunca mais vai ser completo sem você aqui. Eu sei que tenho a graça de ter a presença da minha mãe , nos seus 82 anos. E que tenho a filha linda e maravilhosa que é sua irmã . Às vezes me preocupo com ela, porque meu maior desejo é que ela seja plena e feliz.

       Mesmo assim, não consigo vivenciar o dia das mães da mesma forma. Você partiu e levou um pedaço de mim. E essa sensação de incompletude parece que sempre vai me perseguir nessas datas.

       “Seja feliz e grato com as graças que possui”. Agradeço Senhor. Mas não posso disfarçar o que sinto. Seria mentir pra mim mesma. Sabe que não sou de fugir da raia. Prefiro enfrentar do que ter assuntos mal resolvidos.

        Estava pensando na minha “ quarentena “ ou afastamento social quatro anos e meio atrás. Ia da casa para o hospital, aqui. Cercada de todos os medos e sem conseguir dormir. Apenas quando a exaustão chegava. E depois, em Curitiba, da casa da minha tia para tomar banho e dormir um pouco, para o hospital. Foram os períodos mais difíceis da minha vida. Mas nunca acreditei que teria o desfecho que teve. Foi tempo de muita oração e ressignificar muitas coisas na minha vida.

        Filho, queria tanto ter você aqui hoje para ter me acordado com um beijo e um abraço seu.

        De ter na sexta feira ido à escola ganhar um presente feito pelas suas mãos e comido bolachinhas, sanduichinhos e bolos feitos e servidos por você . 

        Foi um tempo bom. Pena que não volta mais.

        Você me deixou muito de você . Para sempre no meu coração.

         Te amo muito. Para todo e sempre.

( escrito no Dia das mães de 2020)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Feliz aniversário

“Voe livre e feliz além de aniversários e através do sempre.
Haveremos de nos encontrar outra vez, sempre que desejarmos, no meio da única comemoração que não termina jamais”

 comemoração que não pode jamais terminar.


             Dezessete anos atrás você chegou para alegrar as nossas vidas. Por mais que a saudade seja intensa, hoje é dia de celebrar o dia que você veio até nós e o tempo que estivemos juntos por aqui. Amo você para todo e sempre. Feliz aniversário de onde estiver. Sinta-se muito amado e abraçado.
Você 

De
 Mim
M



domingo, 9 de fevereiro de 2020

Dezessete anos ( Carta).

           Está chegando o dia do seu aniversário. Desta vez não estarei aqui em Londrina no dia 14. Resolvi escrever antes.
           Apesar de ser seu aniversário, meu presente ganhei esta semana. Sonhei com você, como a muito não sonhava . Você devia ter uns oito ou nove anos e chamava pela Amanda. Parecia estar na casa da minha avó, em Curitiba. E eu entrei  dizendo: “João Pedro que saudades de você” . E você me respondeu: “eu também mamãe”. E me deu um abraço delicioso. Abraço este, do qual consigo ainda lembrar a sensação. Eu me senti verdadeiramente abraçada  por você . E assim, pude matar um pouco da saudade infinita que sinto por você. Acordei emocionada.
          Tinha tanto medo de esquecer... mas lembro do cheiro, do tato, do timbre da sua voz. Cada sensação ainda é muito vívida.
          Ah , meu querido. 17 anos atrás você estava chegando. Tão miudinho, tão lindo. A pele lisinha e sobrando bebê mesmo na roupa RN que usou por um bom tempo.
          O hospital que você nasceu já não existe mais. E algumas paisagens já mudaram desde que você se foi. O acesso para a escola está bem mais fácil na barragem. A sorveteria da minha infância fechou. Sua irmã está para se mudar. E a Vivi está super adolescente.
           O tempo não parou... a vida prossegue. Ontem disseram  que eu tinha me refeito após a sua partida. Respondi que nunca ia deixar de sentir a sua ausência. Que a sua ausência sempre estaria presente em minha vida.
            Como li essa semana, não sei de quem é a autoria:
“Quando morre alguém que você ama....Dói  a alma, dói até respirar. Dizem que passa, mas não é verdade. Nada volta a ser igual”.
            No entanto, ainda que por um breve  e intenso tempo, obrigada por ter estado conosco nesta existência terrena. E ter marcado tanto a vida dos que te conheceram e que te amaram, e amam.
             Feliz aniversário, onde estiver. Dia 14 de fevereiro foi o dia que você nos brindou pela primeira vez com sua  existência por aqui. Sempre será inesquecível.
             Sinta-se abraçado, cheirado, beijado e comemorado, como sempre fizemos por aqui.
                               Com todo meu amor,

                                                                Sua mãe .

           
                         

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O cantador

Conheci esta música na aula de canto. Apaixonei por ela.
Fala da dor, da vida, da morte e do amor.

“De que serve meu canto e eu
Se em meu peito há uma dor que não morreu...”

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A morte é um dia que vale a pena viver


Este livro chegou a mim quando estava esgotado. Diretamente da autora, através de pessoas próximas a ela.  No aniversário de uma amiga, comentei sobre os vídeos que tinha visto da autora, do interesse que tinha por cuidados paliativos. E surpreendentemente um dia o recebi de presente. Li em uma manhã...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Oração de Santo Agostinho



Gosto muito dessa oração. Ela fala da morte e da esperança do reencontro. Da presença contínua dos nossos amados em nossas vidas, ainda que não visíveis. Que devemos prosseguir nos nossos caminhos, apesar da saudade e da dor. Ainda que a vida, linda e bela, não seja como antes.

Ps: na lembrança da missa de sétimo dia do meu filho, esta foi a oração escolhida.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O que a memória ama, fica eterno

*O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO*

Texto maravilhoso de Adelia Prado, grande escritora e poetisa

  Quando pequena, não entendia  o choro solto da minha mãe ao assistir a  um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que  minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade  que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de  compreender.
  O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.
  É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida  embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa,  eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda  é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma  melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.
  Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente  parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes  insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto,  nossos pais ainda vivem.
  Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando  nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a  segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do  que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
  A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são  escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e  toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte  de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma  fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não  obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você  volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época...
  Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É  comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já  adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes  bobos e imaturos. ENCONTROS DE TURMA são especiais por isso, resgatam as  pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de  atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20, 30, 40 ou 50 anos.  Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos,  brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos,  artroses e rugas.
  A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem  eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa  se já temos 30, 40, 50 ou 60 anos. Pra eles, a lembrança da casa cheia,  das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda  são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
  Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que  por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o  tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara  as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação  para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em  quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser  facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um  filme, uma música antiga, um lugar especial.
  Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos,  cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui,  seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
Adélia Prado


Recebido de uma amiga agora em janeiro. Fiquei encantada com o texto que compartilho com vocês.