Acabei de ler o livro Histórias lindas de morrer. No final do livro, a autora conta a sua própria experiência como filha de paciente. Desabafa sobre uma médica prepotente, sobre o inconformismo e a raiva do atendimento destinado ao pai.
Lembrei da minha própria história. Dois médicos, mesma situação.
Um deles alertou sobre a gravidade da situação do meu filho, sem esconder o que estava acontecendo, mas delicadamente.
O outro, conversou comigo num banco do corredor e disse: “ o João Pedro que você conheceu não existe mais. Você deve pensar o que é melhor para ele”. Eu , mãe , em choque, chorando e largada sozinha no banco do corredor. Ele disse o que disse, levantou e saiu . Simplesmente assim. Tentativa de consolo ( ainda que pudesse não haver), nenhuma. Empatia ? Zero. Pode ser um ótimo técnico, ser humano ? Não sei. Não vi essa face.
Não sei se era pai. Mas devia saber, que quando se trata de filhos estamos lidando com a “parte mais sensível “ dos pais. Para quem não passa por uma experiência de morte de um filho, tudo isso é inimaginável.
Uma grande e querida amiga um dia me disse: “ imagino o que você está passando “. Eu prontamente respondi, você não imagina. Só quem passa, sabe. E ela empaticamente falou: “ você tem razão, eu não imagino”. Disse outro dia, que esse diálogo foi marcante. Que a fez refletir que realmente não tinha como saber.
Cada história é única . Cada relação é única. Cada dor é única. Cada amor é único.
Como diz no livro: “ ela é um lugar que será sempre dela”- Zack Magiezi. Sim , você João Pedro, tem um lugar que sempre será seu. Você é um lugar seu. Para sempre.
* Histórias lindas de morrer - livro da médica geriatra e profissional de cuidados paliativos, Ana Cláudia Quintana Arantes.