sábado, 1 de maio de 2021

Permissão para os lutos necessários da vida


              A sabedoria popular nos brindou com uma expressão cada vez mais desvalorizada e ignorada pela maioria das pessoas. O “tempo é o melhor remédio” não é algo que se aplica às pessoas mais impulsivas e àvidas pelo prazer contínuo. Cada vez mais, em nossa sociedade, os espaços para se viver o luto de algumas perdas estão se tornando escassos e rápidos demais. É bem provável que muitos de nós se ocupe demasiadamente para não pensar que o dia acaba e que todo processo humano tem início, meio e fim, conforme ressalta Ivan Capelatto (2014). Não há mais tempo a perder, se vangloriam muitos que acreditam que a tristeza, a dor, o sofrimento pelas decepções, frustrações, para as perdas de qualquer tipo, não unicamente, a morte, devam ser interrompidas, anestesiadas, evitadas. Algumas expressões corriqueiras adotadas por muitos de nós expressam nossa incapacidade para “suportar” a angústia que caracteriza toda vida humana, que nos dá o direito a alguns ganhos, mas também, às perdas. “Não fique assim, isso logo passa;” “para de chorar”; “deixa de frescura”. Estas expressões denotam a insensibilidade que muitos, por não conseguirem vivenciar com maturidade alguns pesares próprios da vida, se defendem para não vivenciar os sentimentos de tristeza e vazio que podem assolar qualquer ser humano lúcido e não apenas aqueles que porventura, desenvolvem um quadro depressivo importante.  

            Mesmo uma situação simplesmente banal ou sem importância aos olhos dos mais desavisados, pode ser entendida como perda, como por exemplo, os aniversários, a troca de escola, a mudança de casa, de cidade, de emprego, o final do ano que se aproxima. Todos estes eventos da vida cotidiana, inevitavelmente, nos colocam diante de perdas, mesmo que possam estar revestidas de ganhos, de conquistas e de presentes. Os eventos de nossas vidas marcados com rituais de passagem, de despedida evidenciam justamente o fim de uma etapa e início de outra. Geralmente, se valoriza apenas a segunda, ignorando o fato de que qualquer situação envolve esta aparente contradição entre ganhos e perdas. Nenhum ser humano está livre desta condição.

            Tenho insistido muito sobre esta questão, na tentativa de ajudar muitos a reconhecer nossas fragilidades, para então, perceber o potencial para viver de uma forma mais madura e consciente. Que possamos permitir que o outro chore, se for preciso, sofra, se for preciso e que tenha a coragem para viver a delícia e a dor de uma vida, pelo menos, interessante.

A mente cura - Rogério Thadeu

Referências:


Capelatto, I. A vida humana – perdas e consequências. Londrina, Editora Universitário, 2014


Thaddeu, R. No limite das emoções. Londrina, Amplexo, 2005.


(Reproduzo este texto que muito gostei)

Um comentário:

  1. O tempo nem sempre é o melhor remédio, tem sentimentos na vida que não existe remédio pra curar.

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