domingo, 3 de dezembro de 2023

Sobre chegadas e partidas


Uma homenagem às pessoas que passam pela dor do luto.


Sobre chegadas e partidas

            Viver pressupõe criarmos vínculos como também nos depararmos com as experiências de perdas inerentes a eles – a morte. Ela é uma experiência inevitável que faz parte do jogo da vida nos deixando vulneráveis diante do mundo, pois muda todo nosso ambiente. Logo, estamos diante da dor da perda - a dor avassaladora a qual chamamos de luto.

         Esse fenômeno, para além de ser um  tsunami que passa em nossas vidas é também um processo único, singular, solitário e idiossincrático, uma vez que ao perder nosso ente de amor, vivenciaremos o luto de acordo com nossa história pessoal de amor e perdas e da nossa história de vínculo com aquele que perdemos.  

          O luto nos transforma? Inegavelmente, sim! É uma experiência viva, pois entraremos em contato com as contingências da perda e toda gama de sentimentos e emoções geradas por ela, o que traz em nós uma transformação ampla e profunda. Não somos mais quem éramos a partir disso –esta é a verdade!

          Há de se considerar que no enlutar-se há uma função importante: levar-nos à adaptação de uma nova vida na ausência do nosso ente querido. Significa aceitar a realidade da morte enquanto estamos no presente e na permanência do luto e, ao mesmo tempo, mudar o relacionamento com aquele que partiu. O vínculo não morrerá jamais e a existência dele de forma contínua nos dará de presente uma conexão duradoura com nosso ente de amor gerando senso de autonomia e competência na nossa relação com a vida e olhares em propósitos e significados, alegria e satisfação.

        Em suma, ficarão para sempre as histórias vividas que contam quem era nosso ente de amor e quem até então fomos no sentido das construções edificadas; o legado e os valores também tomarão lugares de honra. E mais, nossa trajetória continuará de mãos dadas; agora, com as lembranças, a saudade, a vivência dos valores e a clareza escancarada de que não há um fim para nosso luto – ele ficará integrado em nossas vidas.


Texto escrito pela psicóloga Nione Torres

2 comentários:

  1. Denise querida…um coração agradecido aqui! Que esse texto possa ajudar as pessoas que passam pela dor imensurável da perda de um ente de amor (e, vc de forma genuína, sabe como é) a compreenderem como é essa vivência e, acima de tudo, se sentirem acolhidas! Obrigada por tanto, querida minha! Sinta-se abraçada com meu carinho. Nione

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