quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Texto de um amigo

 Recentemente me indaguei acerca da própria construção de caráter de um alguém: eu.

Isso se deu pois fui bombardeado por questões sobre a formação de memória, sentimentos e perspectivas relativas ao crescer.

Ora, muito embora para crescer seja imprescindível avançar no tempo, cheguei à conclusão de que é necessário, também, revisitar às questões que formaram nosso próprio ser. 

Não me esqueço da minha primeira quebra de expectativa para com a vida.

Ahh, a vida. Me traiu.

Era criança e, para não fugir ao ordinário: inocente. 

O acontecimento “morte’’ era apenas uma figura abstrata, muito longe de qualquer tipo de coisa que eu já tivesse experienciado.

É claro que ouvia acerca de meu vô materno que tampouco cheguei a conhecer. Obviamente percebia o luto daqueles que experienciavam a morte daqueles próximos.

Entretanto, nunca tinha sentido a morte – e o luto - de perto. 

João Pedro.

Daquilo que consigo lembrar de você, caro amigo, da sua inocência, compadre, emergem algumas coisas:

Eras fiel amigo e de bom humor; superava as outras crianças em sabedoria, eis que manso.

Ultimamente, davas a outra face;

Jogávamos juntos e contra outros clubes perdíamos (quase) sempre. A felicidade estava não nos jogos, mas nos treinos (além do campeonato interno do clube). 

Não esqueço quando ví um lampejo de adolescência em você, um simples lampejo.

Por mais estranho que seja e, por mais que minha mente me engane acerca da idade que tínhamos do fato, lembro de quando você, notadamente lembrado pela sua paz de espírito, se enfezou com um atleta da equipe adversária e, o desafiando pela disputa da bola, tomou um cartão amarelo. 

Você deu risada, caro amigo, mas me lembro que fiquei espantado. 

Há poucas semans me confrontei com um segundo falecimento: um avô de um familiar.

Embora morasse longe e tampouco me fosse relativo, acabei me sentindo melancólico, afinal, com ele conversei em algumas oportunidades: era um homem sábio.

O velório foi no mesmo lugar onde você descansa, ‘’Kenji’’, e não pude deixar de revisitar essas memórias.

Perguntei à atendente do local você estava e fui até lá. 

Confesso que quando cheguei ao local, chorei. Quanto tempo!

Tantas vezes sua própria condição não me fez pensar sobre as razões da própria vida! Tantas vezes sua paz não me serviu de exemplo! Tantas vezes nossa inocência me foi substância de contemplação.

Uma coisa é certa: a ideia de Kenji – e o fato de sua partida – caminharão comigo para todo o sempre e mesmo após tantos anos, não deixei de me emocionar.


Texto escrito por um amigo do João Pedro. Muitos sentimentos e emoções ao recebê-lo . Com certeza, meu filho estava cercado de pessoas muito especiais.