Carta de 9 anos
Meu filho, hoje lembrei desse poema :
“ Quando vier a primavera
Se eu estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada”
( Alberto Caeiro - heterônimo de Fernando Pessoa)
E assim chegou setembro. Anunciando a “ boa nova nos campos”. No entanto, você não chegou até a primavera. Os ipês continuam florindo, as orquídeas em frente de casa também, mas você não estava aqui para ver, nem as folhas verdinhas que o encantavam quando pequenino.
Não estava e não está, por nove primaveras.
Continuo sensibilizada por flores, paisagens e fotos, tal como você que tirava lindas fotos.
Continuo ouvindo e “ curtindo” música, vendo filmes e séries e acompanhando esportes diversos, como você fazia na nossa companhia.
Continuo apaixonada por viagens. Porém, ando mais medrosa com as “aventuras” que tanto gostava. Mergulho, trilhas e alguns brinquedos mais radicais.
Fico a pensar, que desde a sua partida, tal como uma comida que apreciamos na infância e deixamos de fazer na idade adulta, o sabor de tudo mudou. Creio que não era simplesmente pela comida, mas pelas circunstâncias. O ambiente, a companhia, o preparo, o cheiro, os sons, as risadas…
E assim tem sido por nove anos.
As flores florescem, mas você não está aqui.
As folhas continuam verdes, mas você não está aqui
O sol continua levantando e se pondo, mas você não está aqui.
Os pássaros continuam cantando, as músicas tocando, mas você não está aqui .
E assim a vida seguiu. Não foram poucos, e sim muitos, momentos que pensei o quanto teria apreciado, aquela comida, aquele passeio, aquela música,aquela paisagem…
E como doeu meu coração em cada instante deste.
Naquela foto de família em que faltava você. No seu aniversário de 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21 anos que as comemorações, sem celebrações, foram silenciosas.
Nos Natais, dos anos novos, dia das mães, dia dos pais, nossos aniversários e em cada domingo de almoço em família.
Já estou em lágrimas.
Sinto tanta a sua falta. Tanta, tanta, tanta..
Mesmo sabendo e sentindo que está bem, onde estiver, é um sentimento que não posso negar. A saudade diária, os fatos que ainda não compreendo, sei que me acompanharão sempre. Enquanto eu estiver por aqui.
Sei que de algum lugar, está olhando para nós. Se assim não fosse, nada teria sentido.
Sei também que esse amor que sentimos um pelo outro, sempre nos acompanhará. O amor que transcende a morte. O amor que traz a esperança do reencontro. O amor que nos alimenta para seguirmos adiante. O amor eterno.
Amo-o para todo e sempre, meu filho, João Pedro.