domingo, 15 de setembro de 2019

Quatro anos

                   Quatro anos atrás, eu recebi a notícia da morte cerebral do meu filho. Só restaria esperar o coração dele parar de bater. Foi quando eu comecei a me despedir dele. Algo impensável num coração de mãe. A ordem natural da vida invertida.
                   Logo após receber a notícia, a médica insensivelmente começou a desligar as medicações e aparelhos na minha frente. O porquê dessa atitude, entendo  que foi uma total falta de preparo. Eu em choque, nem consegui reagir.
                   Não tem o porquê de aumentar a dor, do que dizem ser a maior dor do mundo. Se existe outra maior, desconheço.
                   Meu filho foi o bebê que chutava dentro da minha barriga. Meu filho segurou na minha mão pra aprender a andar. Meu filho que carreguei no colo. Meu filho para quem eu cantava para dormir. Meu filho que queria brincar de luta. Meu filho para quem torci em tantas partidas de futebol. Meu filho com quem vibrei em tantos jogos  vitoriosos e consolei nas derrotas. Meu filho que gostava de sol, de mar, de fazer castelos de areia. Meu filho que gostava de filmes, de música. Meu filho que sabia o que queria e principalmente o que não queria. Meu filho tão cheio de vida...
                 Como assim ? A sua vida indo embora. Assim sem mais nem menos... assim de repente. Naquele momento só restava esperar o seu coração parar de bater. Coração valente que bateu ainda por mais dois dias...
                Ainda hoje,  às vezes parece que não aconteceu. Como gostaria de acordar e perceber que tudo foi apenas um pesadelo. Que a minha vida estava como era a um pouco mais de quatro anos atrás.
                Infelizmente, isso é impossível.



Escrito em 15 de setembro de 2019

2 comentários:

  1. Denise, sem dúvida um menino cheio de vida que sabia o que queria e o que não queria....saudades das aulas de mumúsi com ele. Um beijo imenso pra você.

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