quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Três anos sem você

Escrevi esta carta para o João Pedro. Em algumas ocasiões escrevo.
           
            Hoje faz 3 anos que não escuto sua voz. Mas lembro perfeitamente o tom, o timbre, como se estivesse escutando hoje .
          Conversei com você pela última vez, ou melhor você me respondeu pela última vez faz 3 anos. Parece inacreditável .Às vezes parece ainda que não aconteceu.
         Esses dias tenho revivido tudo que se passou a 3 anos. Os dias em que você estava bem, a primeira queixa da dor de cabeça, quando efetivamente se sentiu mal, os dias no hospital. Logo você que “ nem gripe pegava”, forte que era. E quando tinha algo, recuperava-se muito rápido. Logo você que ironicamente  dizia que ia ser médico de dor de cabeça, antes da fase “jogador de futebol”.
         Como nossa vida muda num piscar de olhos. Como diz a música “ e o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar...”.
         Como tudo mudou. Não tenho mais brinquedos espalhados( já estava começando a ter poucos), chuteiras largadas, chinelos esquecidos, tarefas de kumon escondidas, videogame montado.
          Não torço mais, nem grito “ vai João Pedro”, não tenho que sair correndo do trabalho para um jogo da liga ou Eurocup, ou do campo. Nem levar e buscar você na escola ou na casa de tantos amigos, nem esperar você acabar de jogar bola no portão da escola. Nem tenho mais pães de queijo congelados para fazer um lanche urgente.
          Ah, João Pedro como você viveu intensamente estes seus doze anos e meio .
          Vejo seus amigos, todos cresceram e estão crescendo. Adolescentes . Mais ou menos como sua irmã e os amigos dela quando você nos deixou e fico imaginando como você estaria.
         Que altura teria, como teria mudado a aparência , a voz, onde estaria estudando e com quais amigos, se estaríamos brigando bastante ( provavelmente ), como agiria.
          Hoje só me resta imaginar o futuro que não chegou. Situação inimaginável na época.
           Às vezes algumas pessoas me falam “ imagino o que você deve estar sentindo” e eu respondo, você não imagina. É inimaginável para um pai ou uma mãe pensar na possibilidade de perder um filho. Tamanha dor só de pensar. Somente quem passa por esta perda consegue dimensionar. Mais ninguém .
         Perder os pais, ainda que com muita dor, é a ordem natural da vida. Perder um cônjuge, um companheiro ou uma pessoa querida claro que é difícil. Quem perde os pais  é órfão, quem perde o cônjuge é viúvo e quem perde um filho? Nem nome tem.
         Hoje penso que é sobrevivente. Sobrevivente deste “terremoto” que passou em nossas vidas e arrancou parte da minha melhor parte, você João Pedro.
         Assim sem pedir licença, abalando todas as estruturas.
         Como você faz falta. Tinha medo de esquecer, mas lembro perfeitamente. Do tom da voz, do sorriso, do jeito de falar, de andar, de parar. Até como jogava bola, pegava na raquete, na caneta, no garfo.
            Saudades todo dia e sei que vai ser assim até o dia do nosso reencontro.
           No entanto, por mais que esta dor me acompanhe agradeço por você ter existido cotidianamente em nossas vidas por doze anos e meio. Trazendo alegria, vida e luz. Tão pouco tempo, mas intensamente.
         E fazendo parte de nossas vidas para todo e sempre, pois você vai estar sempre comigo. O amor que nos une é eterno.



                  Sua mãe

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