terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Simples

             Você faz muita falta … 

             A falta da romã hoje me lembrou você . Eu e você gostávamos de romã aqui em casa . 

              Mas a romã não estava à mesa , como tradição, e nem você aqui. 

              O meu desejo para o ano que vem, depois de um fim de ano tão tumultuado, que estejamos todos aqui no próximo ano.         Bem , e com saude .

               Parece tão simples, mas hoje entendo a profundidade do simples .  O simples que nos faz falta . Ou simplesmente que não nos falte ninguém. Simples assim.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Stillness silence

“Eu hoje acordei tão só

Mais só do que eu merecia 

Acho que será pra sempre

Mas sempre não é todo dia “


          Eu me pego pensando sobre a solidão no processo  da escrita , após ler  Escrever, da Marguerite Youcenar .

         Conversando com uma amigo , veio a seguinte frase: nascemos sozinhos e morremos sozinhos .

          Sim, somos mais produtivos na solidão . Quando mergulhamos nas nossas profundezas , quando as conexões de nossas observações surgem. Quando as palavras brotam. Emergem para ganhar significado.

          Talvez por isso tenho escrito pouco. A correria de fim de ano. Aniversário, confraternizações, apresentações . Tantas movimentações… 

          Quando tudo para , percebemos nossas inquietações. Os espaços não preenchidos. Os vazios, as ausências. A falta que você me faz… e sempre fará . Sempre.


Ps: por essas “ coincidências “ , conversamos na aula de inglês sobre a tradução de Stillness silencie, difícil se traduzimos literalmente. Escrevi este texto antes .

sábado, 23 de novembro de 2024

Carta para o meu pai

“ O cuidado é a medida do amor “

          Obrigada por cuidar tanto de nós . 

Do pai novo que embalava a filha que adormecia apenas com as suas canções . Das laranjas descascadas para todas nós e até hoje, para a mãe . Das curiosidades despertadas através das viagens , dos passeios aos museus e pela natureza ( embora não tenhamos guardado nem metade dos nomes das árvores ). Do olhar fotográfico, que sinto que herdei um pouco , e que o João Pedro tinha. Da gaita tocada, que nos surpreendeu pela  habilidade musical e de quem a Sandra deve ter herdado o ouvido quase absoluto. Dos gibis que sempre existiram em nossa casa que incentivou o prazer da leitura, e posteriormente as inúmeras enciclopédias ( Barsa, Delta, Ler e saber, Mundo das crianças). Dos matinês no cine Augustus, com a abertura com o tema de Lara,  que fazia as delícias do domingo de manhã. Das lindas orquídeas cultivadas, na casa da rua Jandaia. Das viagens pra praia, com o porta bagageiro em cima do carro. Do avô que conseguia carregar um neto em cada braço . Dos sukiyakis, nishimês e cozinha deliciosa, que nos presenteia até hoje. Do trabalho incansável. Do ensinamento do voluntariado e da cultura japonesa. 

De tantos shows, circos e espetáculos que nos levou. Holliday on ice, Orlando Orfei estão em nossas memórias, entre outros.

Dos jogos de baralho , dominó e de ter transformado a mesa de jantar em mesa de ping pong  ( sem a aprovação da mãe, mas voto vencido ). 

Dos bolos da Confeitaria Suíça nos aniversários, ovos de Páscoa  do coelho e presentes do Papai Noel .

Se escrevêssemos tudo, esse texto seria interminável ..


Por isso, finalizo com um poema de Cora Coralina que gosto muito . 

Pois o senhor tocou e continua tocando muito os nossos corações: 

“Não sei se  a vida é curta ou longa demais pra nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,se não tocamos o coração
das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que  acolhe, braço que envolve, palavra
que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima
que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa  do outro mundo, é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas
que seja intensa, verdadeira, pura… enquanto durar.”

(Cora Coralina)


Por tudo que nos ensinou por todos estes anos, nós, familiares e amigos agradecemos: nosso muito obrigado!!!

domingo, 17 de novembro de 2024

Conversa com o meu filho


Veio a partida inesperada. Angústia. Fala entupida. Fui para a terapia. Minha cura era falar tudo.


Um dia descobri que a fala não consegue expressar tudo.  

Descobri o lapso entre o pensamento e a fala. Ideias são muitas . A fala não acompanha.  No entanto, continuo escrevendo como quem fala.

Conversa com as mulheres que vieram antes de mim. Conversa com as mulheres que vieram depois de mim. Conversa com o meu filho .

Colo para mim. Colo para outras mães . E quem sabe, colo para o meu filho.


Escrito durante a oficina de escrita e cura. Baseado em um texto de Ana Cristina Cesar

domingo, 3 de novembro de 2024

Ainda sobre finados

              Eu não sei perder.

              Tenho dificuldade em deixar as pessoas do meu convívio irem, e as vezes não cabem mais .

               Guardo cartões, presentes de muito tempo. Da época em que se mandava cartões e aerogramas ( lembram ? ) de Natal.

               Finados, dia dos mortos. De quem se foi, partiu.

               Ah , mas você não perdeu. Ele está do outro lado do caminho. 

               Sim, está . 

               Mas … perdi a convivência. Perdi o beijo e o abraço. Perdi a escuta da voz, chamando mãe. Perdi o olhar. Perdi o cuidar. Perdi os sons que ecoavam pela casa: a música, o videogame, a TV ligada, as brincadeiras com a Meg. Perdi o senso de humor e a visão do seu sorriso. 

              Dia de lembrar das perdas. E de tentar lembrar dos ganhos,  da convivência,  do tempo que esteve por aqui ( se possível). 

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Texto de um amigo

 Recentemente me indaguei acerca da própria construção de caráter de um alguém: eu.

Isso se deu pois fui bombardeado por questões sobre a formação de memória, sentimentos e perspectivas relativas ao crescer.

Ora, muito embora para crescer seja imprescindível avançar no tempo, cheguei à conclusão de que é necessário, também, revisitar às questões que formaram nosso próprio ser. 

Não me esqueço da minha primeira quebra de expectativa para com a vida.

Ahh, a vida. Me traiu.

Era criança e, para não fugir ao ordinário: inocente. 

O acontecimento “morte’’ era apenas uma figura abstrata, muito longe de qualquer tipo de coisa que eu já tivesse experienciado.

É claro que ouvia acerca de meu vô materno que tampouco cheguei a conhecer. Obviamente percebia o luto daqueles que experienciavam a morte daqueles próximos.

Entretanto, nunca tinha sentido a morte – e o luto - de perto. 

João Pedro.

Daquilo que consigo lembrar de você, caro amigo, da sua inocência, compadre, emergem algumas coisas:

Eras fiel amigo e de bom humor; superava as outras crianças em sabedoria, eis que manso.

Ultimamente, davas a outra face;

Jogávamos juntos e contra outros clubes perdíamos (quase) sempre. A felicidade estava não nos jogos, mas nos treinos (além do campeonato interno do clube). 

Não esqueço quando ví um lampejo de adolescência em você, um simples lampejo.

Por mais estranho que seja e, por mais que minha mente me engane acerca da idade que tínhamos do fato, lembro de quando você, notadamente lembrado pela sua paz de espírito, se enfezou com um atleta da equipe adversária e, o desafiando pela disputa da bola, tomou um cartão amarelo. 

Você deu risada, caro amigo, mas me lembro que fiquei espantado. 

Há poucas semans me confrontei com um segundo falecimento: um avô de um familiar.

Embora morasse longe e tampouco me fosse relativo, acabei me sentindo melancólico, afinal, com ele conversei em algumas oportunidades: era um homem sábio.

O velório foi no mesmo lugar onde você descansa, ‘’Kenji’’, e não pude deixar de revisitar essas memórias.

Perguntei à atendente do local você estava e fui até lá. 

Confesso que quando cheguei ao local, chorei. Quanto tempo!

Tantas vezes sua própria condição não me fez pensar sobre as razões da própria vida! Tantas vezes sua paz não me serviu de exemplo! Tantas vezes nossa inocência me foi substância de contemplação.

Uma coisa é certa: a ideia de Kenji – e o fato de sua partida – caminharão comigo para todo o sempre e mesmo após tantos anos, não deixei de me emocionar.


Texto escrito por um amigo do João Pedro. Muitos sentimentos e emoções ao recebê-lo . Com certeza, meu filho estava cercado de pessoas muito especiais.




domingo, 29 de setembro de 2024

Palavras formigando

         Acordei com as palavras formigando . Ainda na cama sinto: preciso  escrever . As palavras estão soltas , as ideias ganhando corpo. Como gritando : precisamos existir. 

Sou sobrevivente. Li em algum lugar que as mães que perderam um filho são sobreviventes. Tal como um alcoolista do AA, um dia de cada vez. Mesmo depois de muito tempo, para o tempo terreno . Pois, para nós o tempo é diferente. Parece que foi ontem, ao mesmo tempo parece tão longe.  O último beijo , o último abraço, o último sorriso, o último carinho , as últimas palavras.

         Só as lembranças nos restam… é um amor infinito.  Um amor que mesmo assim, continua existindo e crescendo .

Em tempos como estes, a angústia aumenta .

          9 anos atrás estava no hospital. À espera. A pior espera  que pode existir . O revés de um parto.  Espera do coração do meu filho parar.  Morte cerebral constatada, esperava seu coração valente parar de bater .  Não sei se existe algo mais torturante que isso . 

         Eram seus últimos momentos nesse plano .  Ao menos corporalmente.

Cruel demais para o coração de uma mãe .

Lágrimas já estão a escorrer .  Aperto no peito . O ar sufocante, mesmo com a chuva caindo, após tanto tempo.

Desabo. 

Preciso.

Para me reconstruir. 

Dia após dia. 

“… foi assim. Assim será”.


( Escrito no dia 16 de setembro)

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Carta de 9 anos




Carta de 9 anos

Meu filho, hoje lembrei desse poema : 

“ Quando vier a primavera 

Se eu estiver morto,

As flores florirão da mesma  maneira

E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada”

( Alberto Caeiro - heterônimo de Fernando Pessoa) 

          E assim chegou setembro. Anunciando a “ boa nova nos campos”.  No entanto, você não chegou até a primavera. Os ipês continuam florindo, as orquídeas em frente de casa também, mas você não estava aqui para ver, nem as folhas verdinhas que o encantavam quando pequenino.

         Não estava e não está, por nove primaveras.

         Continuo sensibilizada por flores, paisagens e fotos, tal como você que tirava lindas fotos.   

         Continuo ouvindo e “ curtindo” música, vendo filmes e séries e acompanhando esportes diversos, como você fazia na nossa companhia. 

         Continuo apaixonada por viagens. Porém, ando mais medrosa com as “aventuras” que tanto gostava. Mergulho, trilhas e alguns brinquedos mais radicais. 

           Fico a pensar, que desde a sua partida, tal como uma comida que apreciamos na infância e deixamos de fazer na idade adulta, o sabor de tudo mudou. Creio que não era simplesmente pela comida, mas pelas circunstâncias. O ambiente, a companhia, o preparo, o cheiro, os sons, as risadas…

          E assim tem sido por nove anos. 

          As flores florescem, mas você não está aqui.

          As folhas continuam verdes, mas você não está aqui

          O sol continua levantando e se pondo, mas você não está aqui. 

          Os pássaros continuam cantando, as músicas tocando, mas você não está aqui .

          E assim a vida seguiu. Não foram poucos, e sim muitos,  momentos que pensei o quanto teria apreciado, aquela comida, aquele passeio, aquela música,aquela paisagem… 

          E como doeu meu coração em cada instante deste.

          Naquela foto de família em que faltava você. No seu aniversário de 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21 anos que as comemorações, sem celebrações, foram silenciosas. 

          Nos Natais, dos anos novos, dia das mães, dia dos pais, nossos aniversários e em cada domingo de almoço em família.

          Já estou em lágrimas.

          Sinto tanta a sua falta. Tanta, tanta, tanta..

          Mesmo sabendo e sentindo que está bem, onde estiver, é um sentimento que não posso negar. A saudade diária, os fatos que ainda não compreendo, sei que me acompanharão sempre. Enquanto eu estiver por aqui. 

          Sei que de algum lugar, está olhando para nós. Se assim não fosse, nada teria sentido.

          Sei também que esse amor que sentimos um pelo outro, sempre nos acompanhará.  O amor que transcende a morte.  O amor que traz a esperança do reencontro. O amor que  nos alimenta para seguirmos adiante.  O amor eterno.

          Amo-o para todo e sempre, meu filho, João Pedro.

sábado, 7 de setembro de 2024

Três encontros, três mães

            
                 Três encontros, três mães com histórias diversas e semelhantes. 
1- Encontrei a mãe de uma amiga, na missa de sétimo dia de uma amiga em comum. Ela me viu, veio ao meu encontro, abraçou- me fortemente e começou a chorar. E me disse:  “para quem perde um filho como nós, esse sentimento nunca passa”. Sai de lá e desabei. Chorei pela amiga que se foi, chorei pela mãe da amiga, chorei pelo meu filho, chorei por mim. “ … eu pensei em mim, eu pensei em ti , eu chorei por nós…”.

2- Enviei um texto via Zap para uma amiga que perdeu um filho. Falava sobre o ato mais difícil do mundo: entregar um filho a Deus . Recebo a seguinte resposta : “eu não consigo fazer as pazes com Deus. Não sei se um dia entenderei a razão Dele ter levado meu filho, depois de tudo o que ele passou ao longo da vida. Em seu melhor momento, tudo acaba.” Penso que tudo é muito recente para essa mãe. Tudo tem um tempo. E por mais difícil que seja, o entendimento dos fatos, penso que não será nesse plano. Ainda assim, agradeço a Deus por ter me sustentado até aqui. E não creio que foi a vontade Dele que levou nossos filhos, mas algo que está além da nossa compreensão. Mas respeito imensamente o seu momento e a sua dor.  É um sentimento inimaginável.

3- Em um evento de uma ONG, encontro a mãe de uma amiga da minha irmã. Fazia muitos anos que não a via. Uma senhora muito alegre e forte. Perdeu a filha de leucemia, muito jovem. Após a morte da filha , o marido não suportou a dor e também faleceu. Na sequência teve um câncer, e forças para superar e cuidar  da neta. Comentando a passagem do tempo, disse que já fazia 21 anos que a filha tinha partido. E o quanto tinha sido difícil esse dia das mães, pois esse ano, a data da partida caiu exatamente no dia das mães. Com certeza me ver, fez lembrar da filha, já que minha irmã era muito amiga dela . 

              Pode passar o tempo que for,  menos de um ano ou mais de vinte anos, as lembranças surgem. Às vezes do nada.

              Algumas vezes são doces, outras dolorosas. Algumas nos fazem sorrir, outras chorar. Outras sorrir e chorar ao mesmo tempo, num misto de emoções.

               E aí peço e lembro daquela música: 

“ Tristeza , por favor vai embora

…. Fez do meu coração a sua moradia 

Já é demais o meu penar

Quero voltar àquela vida de alegria “ .

                 Voltar não volta. Mas ainda assim, mesmo parecendo impossível, podemos encontrar algumas alegrias e paz de espírito. Que assim continue.


Ps: a foto tirei numa caminhada em estradas rurais. Coincidentemente 3 flores. Sobreviventes.

domingo, 25 de agosto de 2024

Espera sem fim

              


             Vi um pedaço do filme do Cão Vermelho. Um cachorro, cujo dono morre, que o espera por muito tempo na estrada. Então decide partir a procura do dono, nos lugares por onde ele andou .

            Isso me fez lembrar o Hachiko, o cachorro que esperou por mais de nove anos, até a sua morte, o seu dono (que faleceu), na estação de Shibuya (onde costumeiramente desembarcava). Fato que inspirou o filme Sempre ao seu lado, atuado por Richard Geere.

             Já faz quase nove anos que você partiu.  Assim inesperadamente. 9 anos atrás, sem que soubéssemos eram seus últimos dias em nossa casa. Meg, parecia saber, não saia do seu lado. Por muito tempo, após a sua partida, esperava você perto da porta, nos horários da sua chegada. 

              E eu, ainda me vejo procurando você, pelas estradas da vida. Ou melhor, encontrando seus sinais nos momentos e lugares mais inesperados. Até o dia do nosso reencontro.

sábado, 17 de agosto de 2024

O mês de agosto

                


              Daqui a um mês, fará 9 anos da partida do João Pedro. Nesse tempo, os amigos saíram da infância para a adolescência, juventude. Namorando , fazendo faculdade , morando fora de Londrina. A vida seguiu. Para ele não. João Pedro ficou na infância. Todas as lembranças que temos dele, são de um menino. Não saberei como seria o João Pedro adolescente, ou o João Pedro adulto. Posso apenas imaginar .

              Ah, meu filho, esse é um mês difícil para nós .

              Dia dos pais , e você não está aqui. Lembramos que nove anos atrás,  você estava aqui. Brincando, estudando, jogando. E nove anos e cinco dias depois, tudo começou a mudar. Passou mal, depois hospital, para não voltar mais para essa casa.

               Não , morte de filho não se supera . Passe o tempo que passar. Nunca seremos os mesmos. Sempre haverá uma ausência presente.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Sem título


               Diante de certos fatos, sentimo-nos totalmente impotentes. 

                Lembrei-me de uma música do Vinicius e Toquinho, Um homem chamado Alfredo, cuja letra diz: 

“ o meu vizinho do lado, se matou de solidão.

… num velho papel de embrulho 

Deixou um bilhete seu

Dizendo que se matava 

De cansado de viver”.

               Não sei quando a letra foi escrita, mas como Vinicius faleceu em 1980, foi anterior a definição de transtorno depressivo, como considerado atualmente. 

                A depressão é considerada o “ mal do século XXI”.  Estima-se que em 2030, será a doença mais comum.

                Nunca imaginaríamos que ela poderia atingir alguém próximo, e com tamanha gravidade e de uma forma tão veloz.

                Alguém com quem tínhamos uma convivência semanal.  E que era tão cheia de vida, alegre, com tantos projetos, viagens marcadas . 

                Ainda estou em choque. E nessas horas, vem a pergunta: será que poderia ter feito algo para tentar evitar ? 

               Racionalmente sabemos que é uma doença. Mesmo assim, emocionalmente temos uma sensação diferente, por ser uma doença mental. Será que perguntaríamos o mesmo se fosse uma doença física ? 

              Perguntaríamos, talvez, se poderíamos, de alguma forma, estarmos  mais presentes. 

              Nada é por acaso. As pessoas entram em nossas vidas, por alguma razão. Fomos abençoados com tantos bons momentos de convivência. Caminhadas, cafés, viagens, fotos, conversas, risadas. Essas lembranças estão eternizadas.

             E, considerando a reflexão que esse momento traz, agradeço e peço a Deus para nos sustentar. Que Ele ilumine o caminho de quem partiu, e dos que aqui ficaram.   



terça-feira, 16 de julho de 2024

A foto do perfil

                


            Foi involuntário. Sem querer apertei algo, no carro,  e mudou a minha foto de perfil das redes sociais . Para algo completamente no-sense.

            Quis corrigir, rapidamente. E não pude resgatar a foto antiga, em que aparecia com o João Pedro . Essa foi minha foto de perfil por mais de oito anos . 

            Já me questionaram, o porquê da foto de perfil ser apenas com o João Pedro. Se a minha filha não sentia. Perguntei , ela disse que não . Pensei em alterar para uma foto com os dois, mas fui deixando.

           E hoje , sem querer, aconteceu. O inconsciente trabalhando? Talvez. O universo “ mandando recados” ? Quem sabe..

           Acho que não me sentiria bem simplesmente alterando a foto . São detalhes pequenos, no entanto parecem pesar . Culpa e maternidade, penso que muitas vezes seguem juntas. Sentimo-nos responsáveis se algo não corre bem com os nossos filhos. 

           Sinto como se tivesse que dizer: Filho, mudar a foto não significa esquecimento. Você está sempre em mim. A foto de proteção de tela é sua. Eu a vejo sempre e constantemente. Pertence a mim. Assim como todos os sentimentos de amor e ternura que trago comigo, por você e por sua irmã . Esses estão enraizados , no mais profundo âmago. Entrelaçando o meu sentir e o meu ser . Sem saber onde começa ou termina, um ou outro. 

          E assim seguimos : eu por aqui e você aí . Siga na luz, meu filho .

quarta-feira, 26 de junho de 2024

A dor

 “ O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a sentir que é dor, a dor que deveras sente .” ( Fernando Pessoa)

           Para alguns , ou melhor algumas , é o contrário. Fingimos que não sentimos a dor, que deveras sentimos .  Ou para, por ora , prosseguirmos. 

                  Talvez porque os sentimentos são reversos. Entregar um filho “ é o revés” de um parto.  Partir antes dele é reversa a natureza , a dita “ normalidade” .

                 Como alguém disse,  e repito mais uma vez, “ morte de filho não se supera “.  Seguimos adiante, ressignificamos a vida.

                No entanto, às vezes precisamos deixar a dor vir. Para podermos entender e aprender a conviver com ela . Para que ela se torne saudade e boa lembrança, mesmo estando guardada  e aparecendo. Mesmo parecendo  impossível.

              Não sei se o tempo é o melhor remédio, mas ajuda a amenizar. Como uma ferida aberta que cicatriza. 

               Para que nos tornemos poetisas de nossas vidas. Transformando dor,  em poesia .



Para a Lu:  Hoje sempre será o aniversário do Francisco. O dia que ele veio a esse mundo nos agraciar com a sua presença 


( escrito no dia do aniversário do Francisco)


domingo, 16 de junho de 2024

A marca indelével

                   Sempre tive uma certa tendência à melancolia . Gosto de músicas de “ rasgação de pulsos” , dramáticas mesmo. Apaixonei pelas poesias e músicas do Vinicius de Moraes,  na adolescência. Embora converse muito, aprecio muito os momentos de “ meus livros, meus discos e nada mais “. 

                    No entanto,  nada disso se refere a marca indelével que deixou em mim. Ou melhor, que a sua partida deixou em mim. E que hoje, eu reconheço nas mães cujos filhos partiram.    

                  Podemos sorrir , prosseguir a vida , mas a marca está lá. Podemos ter momentos alegres, amamos os outros filhos,  outras pessoas , mas a marca está lá . 

                  Podemos rezar, consolar o próximo, ajudá-lo, mas a marca continua lá . 

                Temos a consciência da existência dela. Do quanto ela se incorporou em nós.  E temos saudades de quando ela não existia . 

                 A marca que não se consegue apagar , extinguir, destruir. A marca  que  o tempo não corrói, permanente.

                  A marca que faz  uma mãe que perdeu um filho dizer para outra que também  perdeu: “ você sabe como é”.  Sim, só nós sabemos . 

domingo, 2 de junho de 2024

Fica aqui comigo

               


                 -  Mãe, fica aqui comigo…

                 Eu ia me afastar um pouco,  para atender o celular insistente. E assim, você falou sonolento. 

                  Voltei e continuei a segurar as suas mãos. Lembrando de como costumava  fazer quando era menorzinho. Segurava  e beijava suas mãozinhas fofinhas. Até você escapar e me provocar: 

                  - Você não me pega. 

                  Corria feito um foguete, mas conseguia alcançá-lo  e fazer cócegas.  E você gargalhava. 

                 -  Para mãe , para. 

                 -  Pede água. 

                  - Não  ( e mais risadas ). 

                   Depois de um algum tempo resistindo e tentando se desvencilhar…

                  - Água mãe. Água…

                  Afastava-se rindo muito. Até a próxima provocação.

                  - Você não me pega … 

                 Ainda lembro da risada, do som da sua voz, da pele macia, do cheiro. 

                 Tinha tanto medo de esquecer. Acho que não desaparecerá mais. São ecos que permanecem.

                  Agora, sou eu que muitas vezes tive vontade de dizer :

                  -  Filho, fica aqui comigo.